Cape Maclear, uma pequena povoação pescatória situada nas margens do Lago Malawi a poucos quilómetros de Monkey Bay, era o local ideal para descansar.
Não poderia considerar que estivesse fisicamente cansado, mas fosse como fosse uns dias de repouso em Cape Maclear eram sempre bem-vindos.
Acordava todas as manhãs a poucos metros da praia, onde podia contemplar as águas transparentes do lago.
Não muito longe da costa podia avistar a Ilha de Thumbi e a Ilha de Domwe, que pareciam ter sido colocadas ali à mão apenas para embelezar a paisagem.
Colocar os pés na areia da praia era quase proibitivo para quem desejasse, descansar, contemplar a paisagem, ler um livro ou mesmo ouvir música.
Pois assim que me sentava na areia, automaticamente surgia um “amigo” carregado de artefactos para venda, pronto a interromper o mais sagrado dos momentos de sossego com as tão gastas expressões comerciais: “Hi my friend, amico, hello. Brother, amici… Fine? Bongiorno… I have good stuff for you…”
De nada adiantava explicar que não estava interessado em adquirir qualquer tipo de objecto.
Assim que este vendedor se afastasse de mim, logo aparecia outro a vender exactamente as mesmas coisas… E assim sucessivamente…
Quando pela enésima vez expliquei que não iria comprar nada e que não tinha dinheiro, os vendedores de recordações deixaram de aparecer, para pouco depois surgirem os “vendedores” de passeios de barco… e o ciclo repetia-se outra vez.
Creio que alguns deles até vieram duas vezes, numa maneira de tentarem a sua sorte.
Uma vez que era de difícil compreensão para os “amigos” o facto de eu pretender apenas fechar um pouco os olhos sem ouvir “My friend… bongiorno… good…”, achei por bem regressar aos perímetros da pensão. Mesmo assim havia um ou outro que tentava a sua felicidade ao longe, assobiando e soltando sons num ensaio de captar a minha atenção e assim conseguir me vender alguma coisa.
As ruas de Cape Maclear eram essencialmente em areia entre palhotas de barro e caniço, cobertas a capim.
Os embondeiros abundavam por toda a parte com os seus troncos imponentes.
Por todo o lado havia postos de venda da arte local com os seus característicos bonecos de madeira, a preços algo inflacionados. Após alguns minutos perdidos em negociações comerciais, o preço do objecto acabava a 1/3 do valor inicialmente pedido.
Depois do almoço, dedicava algum do meu tempo à lavagem de roupa, às verificações do equipamento e à manutenção mecânica. Dava-me ao trabalho de descarregar todas as pilhas e baterias que trazia comigo para depois carrega-las completamente.
Alternava as pilhas em utilização, para que não fossem sempre as mesmas a sofrer uso.
Desmontei a roda da bicicleta para verificar qual a razão de o aro estar a raspar nos travões. Aparentemente uma das abas do aro havia cedido fazendo com que esta tocasse no travão.
O que eu não esperava era que assim que esvaziasse o pneu, a aba voltasse ao sitio sendo de difícil detecção qual o local empenado.
Dei algumas suaves marteladas na zona afectada numa tentativa de levar a borda do aro ao sítio. Mas assim que enchia o pneu, o abcesso do aro saltava fora novamente.
Não consegui arranjar nenhuma explicação lógica para o fenómeno do aro, no entanto eu tinha a solução para a situação...
Simplesmente iria continuar viagem assim mesmo. Só tinha que ter um bocado de cuidado a travar na picada, pois a roda podia bloquear sem aviso.
Ao final do dia repetia-se sempre o mesmo ritual.
Enquanto os mais velhos regressavam da faina, nas suas canoas escavadas em troncos de árvores…
… as crianças tomavam banho nas margens do lago…
…os “operadores turísticos” regressavam com os turistas…
… e eu observava o pôr-do-sol…
Entretanto havia recebido a confirmação da minha viagem a bordo do Ilava, que me levaria directamente a Moçambique através das águas do Lago Malawi (oferta da Delegação da Mota-Engil no Malawi -obrigado Filipe, Rui e Manuel António).
Iria desembarcar em Metengula, uma pequena vila na província do Niassa, para no dia seguinte pedalar até Lichinga.
Bastava de descanso. Estava na altura de arrancar e percorrer a curta distância até Monkey Bay (24Kms), lugar onde iniciaria a viagem de barco.
Olá Pedro,
ResponderEliminarParabéns….:)
Por cá tratamos como podíamos da divulgação, mas não dissemos aos Jornalistas que eras mecânico(?) vê lá se clarificas este equivoco… estás em tudo que é jornal, site, blogue…. com nova profissão “mecânico”!
Bom regresso a Portugal!
Um abraço da família.
Olá Pedro!Vi-te na televisão e fiquei tão orgulhosa por te conhecer! Pelo menos na reportagem não me lembro de terem dito que eras mecânico tal como também já tinha lido!
ResponderEliminarEmbora não faça ideia de quando regressas, desejo-te boa viagem.
Um beijo,
Sandra
Parabéns!
ResponderEliminarUm Abraço do teu primo Marcelo