Zâmbia Fase IV – 6º Dia (Katete – Chipata)

 

Acordei às 7h00 enterrado no colchão da minha cama. Durante a noite o colchão resolvera assumir o formato uma concha, criando-me algumas dificuldades para eu conseguir sair da cama.

O pequeno-almoço disponível no restaurante da pensão limitava-se a uma caneca de chá e um pão do dia anterior. Valeu-me um resto de um pacote de muesli que trazia desde Lusaka e ao qual juntei leite em pó.

Tinha uma etapa curta até Chipata. Apenas 82Kms separavam-me do destino, que ocupar-me-iam na bicicleta por umas 5 horas.

Pouco passava das 8h30 quando coloquei-me em frente à pensão, pronto para arrancar.

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Imediatamente senti que o dia estava fresco e que uma aragem marcava as primeiras horas do dia. Deixei-me estar por breves segundos a observar o céu e as actividades matinais das gentes locais.

Reparei nas copas das árvores do outro lado da rua e concluí que não se tratava de uma simples aragem… mas sim de um princípio de tufão… e sabe-se lá porquê… parecia que soprava em sentido contrário ao meu.

DSCF5093 A moral estava em alta. Talvez por esta ser uma das últimas etapas na Zâmbia ou pelo simples facto de o dia estar bonito… apesar do frio que se fazia sentir àquela hora.

 

Iniciei a etapa devagar para os músculos terem tempo para aquecerem.

 

Os primeiros minutos foram uma tormenta para as minhas pernas. Estavam tão presas que não queriam rodar. Parecia que uma perna tinha que pedir licença à outra para empurrar o pedal para baixo e vice-versa.

As minhas pernas estavam limitadas na sua velocidade de acção, tal como um êmbolo que em vez de empurrar óleo através de um orifício empurra “valvolina”.

Aos poucos e com o aquecimento dos músculos, a sensação de “claustrofobia muscular” foi desaparecendo e as pernas girando livremente.

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Tal como um motor “preso” que após um esticão fica solto e apto para rotações mais elevadas, as minhas pernas pediam agora por rotações e estavam capazes de enfrentar os longos altos e baixos que tinham pela frente.

A paisagem, bastante mais atraente que os últimos dias, mantinha-me distraído fazendo-me esquecer que a manhã estava a passar e que eu tinha que parar para comer qualquer coisa.

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Começava a conhecer de trás para a frente todos os álbuns do meu iPod, ficando com a impressão de as músicas estarem gastas e sem energia propulsora para as minhas pernas. Teria que arranjar novas músicas que alimentassem as pernas quando estas necessitassem de um empurrão.

Eram as 12h00 e estava na hora de almoçar. Não comera nada desde o pequeno-almoço na pensão de Katete. As deliciosas bolachas de chocolate haviam findado no dia anterior.

Comprei um queque e uma Coca-Cola de 500ml num tasco na beira da estrada

Na vendedora da frente comprei um cacho das minhas saudosas bananas e estava feito o meu almoço. Há dois dias que não encontrava bananas.

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Continuei a etapa para percorrer os quilómetros restantes até Chipata.

Estava tudo a correr bem… a vista era agradável, o dia estava limpo, a estrada estava em bom estado, o trânsito era pouco… poderia dizer que era o dia perfeito para andar de bicicleta…

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Não fosse facto de eu já não conseguir fazer nada com as minhas perninhas.

O motivo não era o vento nem as subidas, era simplesmente o cansaço acumulado.

Como quem desliga um interruptor ou fecha uma torneira, as minhas pernas simplesmente deixaram de rodar os pedais com o dinamismo esperado. Eu não conseguia impor qualquer ritmo para além daquele que as pernas estavam dispostas a manter.

Se aparecia uma subida, então o caso piorava de figura. Tinha que me pôr de pé sobre os pedais para tentar move-los com o peso do meu corpo.

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Limitava-me a tentar manter o ritmo aceite pelas pernas usando, mais que nunca, a minha inércia e a inércia da bicicleta para ultrapassar algumas das dificuldades.

Arrastei-me por 30Kms, que foram percorridos em aproximadamente 2 horas e que valeram pela mais difícil das etapas (excluindo o Morro do Binda).

Não tinha qualquer dúvida que teria que dispensar um dia em Chipata para descansar. Com as minhas pernas neste estado não iria chegar para além dos limites urbanos da cidade.

Às 13h45 cheguei ao centro de Chipata.

Dei uma pequena volta pela cidade, enquanto procurava por alojamento.

Chipata surpreendeu-me pela positiva. Eu vinha habituado aos aglomerados populacionais ao longo da estrada, os quais vinham assinalados no meu pequeno mapa como sendo cidades. Chipata era completamente diferente. Era realmente uma cidade…

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Possivelmente devido à proximidade com o país vizinho (Malawi) ou por ser um ponto de partida para os Parques Nacionais existentes a Norte, Chipata estava munida de todo o tipo de infra-estruturas características de uma cidade.

Encontrei uma pensão 1 hora depois de chegar a Chipata.

Fiquei alojado na Eastland Lodge (preço para amigos). Uma pensão muito simpática onde os empregados fizeram tudo para que eu me sentisse confortável.

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Apesar de não estar na hora normal de almoço, comi um divinal “T-bone” que o cozinheiro preparou especialmente para mim, talvez por reparar que eu não mexia as pernas.

 

Acho que bati o recorde da quantidade de Coca-Cola bebida. Além dos 500ml bebidos na viagem, bebi mais 4 garrafas de 300ml durante o almoço e mais 2 garrafas ao jantar.

À noite e enquanto preparava as próximas etapas, apercebi-me que tinha a cabeça às riscas tipo leopardo (ou zebra). Era o resultado da pele bronzeada nas zonas das reentrâncias do capacete e onde os raios solares conseguiam queimar a pele.

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Estudava a possibilidade de seguir para Norte na Zâmbia para a zona dos Parques Naturais ou de seguir directo para Lilongwe (o que era mais provável).

Seriam cerca de 146Kms até Lilongwe (Malawi), levando-me a procurar por paragens a meio do percurso.

No estado em que tinha as pernas nem valia a pena tentar chegar a Lilongwe de uma só vez.

1 comentário:

  1. Antes de mais Parabens pela aventura, descobri o teu blog por uma amigo que falou de ti Nuno Sacramento.
    Desejo te boa sorte nessa grande aventura.

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