Moçambique – Estadia em Lichinga

 

Tal como planeado na etapa anterior, a minha estadia em Lichinga tinha agora um ponto extra no seu plano inicial. Além da recolha de informações acerca da estrada até Pemba e do planeamento das próximas etapas, teria também uma visita ao Hospital Distrital onde iria expor o meu joelho a quem percebesse do assunto.

DSCF5698Já no hospital e após algumas opiniões médicas, fui aconselhado a realizar sessões de fisioterapia com o objectivo de reparar um menisco que aparentava estar inflamado.

 

Estava condenado a passar mais dias em Lichinga que aqueles que inicialmente previra, no entanto seria preferível sair de Lichinga com o joelho consertado que ser obrigado a encostar às boxes no meio do mato.

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Lichinga era uma cidade bonita e com inúmeros vestígios da arquitectura de outrora, tal como havia visto em Angola. Avenidas largas cortadas longitudinalmente por jardins e passeios. Praças, pracetas e rotundas um pouco por toda a parte.

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A construção em altura era visível apenas nas avenidas principais. As ruas adjacentes eram dotadas de pequenas casas de cimento, a maioria delas protegidas por gradeamentos em todas as portas e janelas

As ruas eram povoadas por todo o tipo de gente, desde as pessoas com funções laborais até aos jovens a caminho da escola, passando pelos simples desocupados.

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Via-se uma certa agitação relativamente ordenada à qual eu já não estava habituado.

Não estava numa localidade, marcada no mapa como “cidade”. Tal como aquelas cidades por onde passara (em outros países) que na realidade não passavam de cruzamentos, com uma linha de edifícios de telhados de zinco.

Lichinga era de facto uma cidade à qual se podia chamar de cidade e onde era visível por todo o lado a importância que tivera outrora.

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Desde o edifício do cinema, à igreja, passando pelo parque infantil… a cada esquina era possível encontrar uma prova que quem quer que fosse que residisse em Lichinga, não estava de passagem, mas sim para aqui ficar e para aqui viver.

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Era possível ver famílias juntas nas ruas, via-se o pai a passear o filho, via-se rapazes a passear com raparigas, via-se amigos a confraternizar na esplanada de um café, via-se uma sociedade aberta, enfim… um pouco por toda a parte via-se… de alguma forma… um vestígio Português.

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Tudo isto não é notório nem de fácil percepção até ao momento em que, passando por outros países, deparamos com inexistência de certos hábitos e rotinas… Hábitos esses que vão desde o simples “tomar café” até à cerveja com tremoços e amendoins.

DSCF5705 Algo que me dava especial prazer era chegar a uma pastelaria e pedir (sem notas de rodapé) “um galão e uma torrada”, ou consultar o menu de qualquer restaurante… em especial departamento de sobremesas.

Facilmente encontrei o pastel de nata, o bolo de arroz e a bola de Berlim.

 

Havia café tirado nas famosas máquinas Cimbali e havia Compal de todos os sabores. Faltava apenas encontrar a Super-Bock…

 

Procurei com a Administração do Município e com a Policia Municipal, obter informações acerca da estrada para Pemba.

Praticamente todos eram unânimes em um aspecto. A via mais usual seria descer para Sul em direcção a Cuamba e daí seguir para Nacala. No entanto este trajecto não me permitiria visitar Pemba sem fazer um desvio de 420Kms para cada lado.

Uma vez que a minha intenção era seguir para Este até Pemba, atravessando a Província do Niassa e a Província de Cabo Delgado, eu teria que me concentrar apenas nessa rota.

No meio de tantas opiniões (muitas delas incertas), registei alguns dados importantes.

Mapa

De Lichinga até Marrupa iria percorrer uma estrada de alcatrão. Depois passaria para uma estrada em picada com aproximadamente 200Kms, após os quais voltaria a encontrar alcatrão.

Iria pedalar muito perto da Reserva do Niassa pelo qual deveria ter cuidado com os animais, principalmente com os leões e os leopardos. Havia uma zona em que o mato era muito fechado mas aparentemente não era a zona mais perigosa.

Além de Lichinga e Pemba, as únicas populações que eram encaradas como cidades resumiam-se a Marrupa e a Montepuez. Entre estas populações aparentemente não havia nada a não ser pequenas aldeias. Teria que perguntar à população local qual o próximo lugar onde poderia pernoitar, à medida que progredia no itinerário. Pelo menos já sabia qual a próxima paragem após Lichinga… seria Majune.

 

Passei o Equinócio de Inverno em Lichinga, que parecia coincidir com a noite mais fria da viagem.

Consultei através de vários meios, quais as condições meteorológicas para a próxima semana. As notícias não eram nada animadoras. Além de temperaturas matinais perto dos 8oC, teria que adicionar o vento de Sudoeste (contra) e a chuva.

DSCF5728Condições que em nada favoreciam a prestação do meu joelho direito, o que me levou a procurar por umas calças de licra na expectativa que estas mantivessem os músculos quentes.

O mais parecido que encontrei com umas calças de licra, foram umas calças elásticas que estavam penduradas numa loja de roupa para mulher, situada no mercado central.

 

Havia mais um factor que eu teria que ter em conta.

No dia posterior ao dia escolhido para a minha partida de Lichinga comemorava-se a Independência de Moçambique, que juntamente com o fim-de-semana originava 3 dias consecutivos de festividades.

Como resultado, o fluxo de veículos a transitar na estrada seria praticamente nulo. Ou seja… se eu me encontrasse com algum leão, só 3 dias depois é que a notícia chegaria ao mundo.

Apesar de todas as perplexidades acerca da via até Pemba, emanava em mim uma intensa curiosidade por voltar a partir para o desconhecido, só comparável com a intensidade vivida no interior de Angola.

Esperavam-me mais de 700Kms até ao Índico.

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