O 1º Dia (Viana - Maria Teresa)



Comecei… finalmente comecei a minha jornada de bicicleta em África.
Aterrei em Luanda no passado Sábado dia 27, no entanto só consegui iniciar a viagem no dia 31 de Março.
Iniciei a viagem com 2 horas de atraso, mas afinal de contas o que são 2 horas numa viagem de meses? Ou no trânsito de Luanda?
Uma vez no local escolhido para a partida e depois da bicicleta apetrechada, aventurei-me a dar as primeiras pedaladas numa bicicleta que tinha mais de 25kg de carga.
Nos primeiros 10 metros mais parecia um miúdo a andar pela primeira vez numa bicicleta sem rodinhas. Nunca consegui manter a bicicleta em linha recta, mas após ganhar alguma velocidade, a situação endireitou-se.
Nos primeiros 10km tive a companhia de um grupo de amigos de Luanda que me ajudaram bastante nos primeiros tempos em Angola. Foram seguramente os 10km que me custaram menos de toda a etapa (apesar desta estar no inicio). Foram 20 minutos em que não me sentia sozinho e nem parecia que já tinha iniciado a Grande Viagem. O que é bom acaba rápido e a companhia tinha que regressar a Luanda.
Parámos para as últimas despedidas e últimas fotos. Não demos nenhum abraço porque eu já estava todo transpirado e não queria dar banho a ninguém.
Despedidas feitas e fiz-me à estrada. Para trás ficaram Luanda e um grupo de amigos que deu-me muito mais do que alguma vez esperei. Acho que ainda não estava em mim, nem tinha a noção no que estava metido. Pedalava agora em Angola, sozinho e rumo a Este sem saber onde iria comer ou dormir. Mantive esta sensação durante quase todo o dia… Para mim estava a dar uma volta de bicicleta no jardim, apesar de nunca ter estado nestas paragens.
Planeava fazer +/- 50km no dia de hoje em cerca de 2h30 e para isso contava com 4,5 litros de água para me hidratar.
Circulava na estrada que liga Luanda ao Dondo, uma via bastante movimentada e com muito trânsito pesado. Valiam-me as bermas largas e em bom estado que me permitiam pedalar fora da faixa de rodagem.
Aos poucos ia-me habituando à bicicleta e aos seus 25kg extra. Desde que não guinasse o volante ou não baixasse dos 10km/h, a bicicleta manter-se-ia em linha recta. O facto de a estrada ser sempre a direito, também ajudava bastante.
Nunca experimentei a bicicleta em carga antes desta viagem. Agora vejo que se tivesse feito uns testes prévios, não teria perdido nada. Nem sequer vou falar que mais de metade das coisas que transportava que nunca foram testadas. Já para não falar que algumas horas antes de apanhar o avião para Luanda, eu ainda não tinha a bicicleta na caixa nem sequer as malas feitas. Mais uma vez, valeu-me a malta que se sacrificou e acordou mais cedo para me ajudar.
Bem… vou me concentrar na viagem…
Ao fim de 1h30 de viagem, reparei que já tinha bebido quase 2 litros de água e que a minha camisola estava completamente ensopada em suor. Atribui este fenómeno ao facto de ter iniciado a viagem na melhor hora do dia. As 13h30 e de o termómetro do relógio marcar 37ºC!
Com a excitação da partida, tinha-me esquecido de tomar o pequeno-almoço e de almoçar. Este desleixo estava agora a custar-me caro. Fraqueza, cabeça pesada e dores no corpo eram as consequências que se faziam sentir. Safaram-me uns figos secos e umas bolachinhas de chocolate que trazia comigo. Para ajudar à festa, comi uma espiga de milho assado que consegui à troca de uma carteira de sais de frutos. De hora a hora era obrigado a parar para pôr mais um reforço cá para dentro.
A dada altura estava a andar tão devagar que pensei que o vento estivesse de frente… nada… estava a favor. Pensei que estivesse alguma coisa a travar uma roda, ou os calços de travão estivesse fechados… mas nada… eram apenas os 25kg de carga a dar uma acção da sua graça numa ligeira subida e que aliados ao meu cansaço, faziam-me circular a uns extraordinários 10km/h!
Finalmente e ao fim de +/-75km, cheguei a Maria Teresa, uma pequena localidade antes de Zenza do Itombe e que serve de apoio aos inúmeros camionistas que vêem/vão de Luanda.
Morria por uma cola bem fresca, e após alguns minutos com os habitantes locais encontrei a tão desejada bebida no Restaurante Maria Teresa.
Fui recebido pela D. Engrácia Matos, proprietária do estabelecimento, que após eu lhe ter explicado de onde vinha e que ia para o Dondo (não disse Moçambique devido ao choque), prontamente me ofereceu uma toalha lavada, sabonete, uma casa de banho para tomar banho a balde, um bocado de chão do seu café para eu montar a tenda, um colchão e lençóis lavados. Que mais podia querer?
Foi de facto extremamente gratificante a maneira como D. Engrácia me apoiou e que levou-me a esquecer as 4h30 a pedalar para fazer os 75km.
No Restaurante Maria Teresa, comi o melhor funge que alguma vez comi, vindo este acompanhado com carne de veado.
Amanhã a partida será para o Dondo e apesar de não sentir a pernas, estou ansioso por começar a pedalar.
Não se habituem a estes testamentos no meu blog. Hoje foi uma excepção por ser o 1º dia.
Estou em Luanda há 3 dias e ainda não escrevi nada no meu Blog...