Zâmbia Fase IV – 2º Dia (Chongwe – Rufunsa)

 

Acordei às 6h00, todavia deixei-me estar na cama até às 7h00 devido às baixas temperaturas existentes do outro lado dos cobertores.

Não havia necessidade acordar muito cedo, pois teria que aguardar até o Sol estar alto de maneira a aquecer um pouco o dia.

DSCF4821 Iniciei a pedalada em direcção a Rufunsa às 8h30. Pelas minhas últimas contas, teria que percorrer 116Kms até chegar ao destino, estando previstas entre 6hrs a 7hrs para cobrir a distância calculada.

O dia estava fresco e o vento (contra) ainda estava fraco. O percurso em nada era motivador, mas isso já não era novidade para mim. Já contava com um percurso monótono para esta etapa e para as etapas seguintes.

DSCF4832 Por vezes questionava-me até que ponto a influência do clima e do vento afectavam a minha maneira de caracterizar o percurso. “Se estivesse um dia quente, com Sol e sem vento a opinião seria a mesma?”

Tentava manter a mente ocupada com qualquer coisa para que as horas de viagem não se transformassem numa tormenta psicológica.

DSCF4834 Sentia-me melhor que no dia anterior. As pernas também estavam a corresponder bem e de uma maneira geral, todo o meu corpo parecia estar a gostar por estar de volta às longas etapas.

Limitava-me a ouvir a música do meu iPod e a cumprimentar aqueles com que me cruzava ao longo da estrada.DSCF4851

De resto nada de novo, Sempre o mesmo tipo de paisagem.

Camiões a passarem a toda a velocidade inclusivamente autocarros carregados de passageiros. Qualquer que fosse o tipo de veículo, parecia que quanto mais depressa melhor. Desciam as colinas a toda a velocidade sem darem a menor importância à sua segurança nem à dos partilhavam a estrada com eles.

Tentava imaginar o que os motoristas dos autocarros teriam na cabeça e se existia neles um pequeno nico de consciência sobre a velocidade a que seguiam. Parecia que não se importavam com a sua vida, nem com as vidas que transportavam no seu veículo… para não falar da segurança dos restantes utilizadores da estrada.

O vento subia de intensidade com o passar das horas, no entanto não era tão forte como no dia anterior.

DSCF4837

 

Cheguei a Shingele, 3h15m depois de ter deixado Chongwe. Uma povoação que não vinha no meu mapa mas que eu pensava ser de alguma dimensão. Na realidade Shingele não tinha mais que 10 casitas de um lado e do outro da estrada.

 

 

Aproveitei para me abastecer de bananas e também para almoçar (bananas com Coca-Cola).

DSCF4839Shingele estava a metade da distância para Rufunsa.

A partir de Shingele e durante os próximo 40Kms a estrada por onde eu seguiria era a delimitação norte do Parque Natural do Baixo Zambeze.

Havia sempre a hipótese de me encontrar com algum “amigo”.

Não me demorei com o meu almoço.

A estrada aparentava agora algumas características de montanha. Longas subidas e longas descidas, estas últimas que iam compensando de algum modo o efeito do vento contrário.DSCF4856

As pernas continuavam a corresponder bem fazendo-me supor que os dias de enfermidade haviam ficado para trás.

O tempo ia passando e os quilómetros também. Com tanta subida e descida as pernas foram se desgastando o que fazia-me desejar pela chegada a Rufunsa o mais depressa possível.

 

Pela posição do GPS, eu estaria a cerca de 30kms da vila o que manter-me-ia ocupado pelas próximas 2 horas. Nada que não se fizesse, não fosse o caso de ter o cansaço a bater nas pernas.

Quilómetro após quilómetro fui-me aproximando do lugar onde seria Rufunsa. Já estava perto do destino. Aos poucos e poucos o meu corpo iniciou um processo de abrandamento e relaxamento.

DSCF4862

Cheguei às coordenadas onde supostamente seria Rufunsa, mas à minha volta não havia nada a não ser mato. Nem um cruzamento, nem um carreiro pedonal… nada de nada.

Sem qualquer tipo de desânimo, continuei viagem pois a vila (ou aldeia) havia de aparecer.

Poucos quilómetros depois, cheguei a um entroncamento. Parei. Não me parecia que a estrada levasse a qualquer tipo de povoação.

Decidi perguntar a 2 velhotes que estavam sentados no cruzamento qual a direcção de Rufunsa. Entre palavras soltas, sons e gestos decifrei que deveria continuar pela estrada principal. Quantos Quilómetros? Ninguém sabia ao certo. Mas era já ali.

DSCF4860 Até onde a vista alcançava, não via qualquer sinal de povoação… nem uma fogueira nem um telhado de chapa de zinco a luzir ao Sol.

Retomei a pedalada em busca de Rufunsa sem saber por quanto tempo nem por quantos quilómetros.

As pernas já haviam desligado, tornando cada vez mais difícil a minha progressão.

Procurava algo que vinha marcado no meu pequeno mapa como sendo uma Capital de Distrito.

Percorri uns tormentosos 12Kms até que cheguei a outro cruzamento. Desta vez com algumas barracas de bebidas plantadas ao longo da estrada. Parei para perguntar aos comerciantes onde era Rufunsa.

Cada um respondeu-me de uma maneira diferente. Uns diziam que era no cruzamento lá atrás (o qual eu havia passado), outros diziam que Rufunsa era o nome da zona distrital e que não existia a povoação “Rufunsa”… e outros diziam que era o entroncamento onde me encontrava.

Como não iria voltar para trás à procura da mítica Rufunsa, decidi pernoitar no entroncamento junto das barracas comerciais.

Antes de me instalar, perguntei para onde seguia a estrada secundária que estava diante nós.

DSCF4888

Alguém respondeu-me que era a estrada para a “St Luke’s Mission Hospital” na qual havia quartos para alugar. Não precisava de ouvir mais nada, apenas certifiquei-me a quantos quilómetros estava a dita Missão e retomei (uma vez mais) a minha pedalada.

Eram apenas 6kms em estrada asfaltada, que apesar do cansaço foram percorridos facilmente.

Cheguei à missão perto das 17h00 e com 134Kms nas pernas (mais 18Kms que inicialmente previsto).

DSCF4868Fiquei instalado na pensão da Missão. Esta tinha meia dúzia de quartos, os quais a preços bastante acessíveis e com boas condições.

A água (fria) corria no chuveiro e a electricidade era só entre as 18h00 e as 22h00. No entanto poderia considerar estas condições como um luxo, tendo em conta que minutos antes andava no meio da estrada sem saber onde iria dormir.

O jantar ocorreu numa barraca feita de caniço e de sacos de cimento (vazios) entra as muitas palhotas existentes nas vizinhanças da Missão.

DSCF4872

DSCF4876

Iluminado por uma pequena lanterna, jantei uns pedacitos de galinha cozinhados horas ou dias antes. Vinham acompanhados com “shima” e umas verduras tipo caldo-verde.

Talheres? Os únicos que existiam pertenciam à cozinheira… teria que comer à maneira tradicional africana.DSCF4873

Uma vez no quarto e durante quase toda a noite, ouvia discussões e berros oriundos das barracas vizinhas onde proliferavam indivíduos alcoolicamente alterados, fruto das fortes bebidas espirituosas vendidas por todo o lado.

Deitei-me confortavelmente na minha cama, que era pouco mais larga que os meus ombros e aguardei a manhã seguinte.

Sem comentários:

Enviar um comentário