Malawi (Fronteira – Lilongwe)

 

Às 11h37 saía do Posto de Imigração da fronteira Malawiana, com o visto no passaporte.

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Estava agora no terceiro e penúltimo país da minha viagem.

Achava que ainda era possível percorrer os 125Kms e chegar a Lilongwe antes das 18h00, altura em que seria noite escura. Para isso as pernas teriam que ser capazes de impor uma velocidade média de 20Km/h, qualquer que fosse a acção do vento.

Eram quase as 12h00 e o meu estômago começava a enviar impulsos ao cérebro alertando-o que estava na hora de ingerir qualquer coisa.

Parei logo a seguir à fronteira para comprar um pacote de bolachas e uma Fanta à temperatura ambiente.

DSCF5155 Tal como na Zâmbia, a estrada estava em bom estado.

O trânsito não era muito e a existência de bermas fazia com que eu pedalasse mais descansado.

 

O país mudou, mas à parte disso tudo o resto mantinha-se na mesma.

 

Continuava a falar inglês, continuava a conduzir pelo lado esquerdo, continuava a ouvir “Give me money” e continuava motivado…

A única diferença era a existência de um estranho formigueiro numas pernas sequiosas por quilómetros.

De facto as pernas estavam a retribuir muito acima daquilo que esperava. Além de conseguirem manter um bom ritmo, também não se queixavam quando eu resolvia “esticar” por uns minutos.

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É certo que o facto de a estrada ser ligeiramente a descer e de o vento ser lateral (na grande parte do tempo), também dava o seu pequeno contributo. No entanto eu gostava de pensar que era tudo mérito das duas pernas. As mesmas pernas que dois dias antes iam-me deixando a meio do caminho.

Os quilómetros desapareciam debaixo da roda da bicicleta.

A temperatura ainda estava agradável. A minha sede não desejava água, mas sim um refrigerante bem gelado. Pensei em parar na próxima barraca para comprar uma Coca-Cola, mas acabei por desistir da ideia assim que vi a fachada do estabelecimento.

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Continuava pela estrada fora a um ritmo frenético. Desde que entrara no Malawi que pedalava sem grande esforço e a médias superiores a 22Km/h.

Desconhecia o que alimentava as minhas pernas, mas suspeitava que não fosse outra coisa senão a inquietação de chegar a Lilongwe durante o dia.

À medida que me aproximava da capital do país, o trânsito de veículos pesados ia aumentando.

Alguns dos veículos em “menos boas” condições de conservação…

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Outros pura e simplesmente transformados em veículos de carga.

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Pelo comprimento da minha própria sombra, era facilmente perceptível que o final do dia aproximava-se.

DSCF5171 Ainda não era motivo para alarme pois restavam-me apenas 15Kms até Lilongwe, no entanto não podia me dar ao luxo de desperdiçar muito tempo uma vez que nesta zona do globo, o Sol deitava-se apressadamente e cedo.

Afinal de contas eu estava dentro do mesmo fuso horário desde a entrada na Zâmbia a 1.200Kms Oeste além do mais, que o dia mais curto do ano aproximava-me, forçando-me a manter um certo cuidado (diário) com a hora da deita do Astro Mor.

A temperatura ambiente descia à medida que a luz solar enfraquecia, no entanto as caldeiras que moviam os pedais continuavam a debitar calor, fazendo com que eu chegasse à entrada de Lilongwe pouco depois das 17h20.

Foram 120Kms percorridos em 5h11m desde a fronteira até à cidade.

À entrada em Lilongwe dou de caras com um velho colega de outras guerras.

DSCF5175Após alguns minutos a colocar a conversa em dia, este informou-me o que eu já sabia. Para me deslocar até aos escritórios da Mota-Engil, local onde poderia encontrar “abrigo” e acima de tudo… boa comida.

E de facto assim era… onde há portugueses não falta nem pão nem vinho.

SUC50692Cheguei à sede da Mota-Engil no Malawi, já era de noite.

No total da etapa havia percorrido 146Kms em 9h05m.

 

Após um duche quente, fui convidado a jantar na recém inaugurada cantina.

Comi sem me importar com as figuras que estava a fazer.

DSCF5180 Havia sopa! Foram centenas de quilómetros sem saber o que era uma sopa de legumes.

Não me lembro se a sopa estava quente ou fria. Isso não importava… era sopa.

O facto de o cozinheiro ter que voltar à cozinha por duas vezes para fazer mais bifes, também não me causava qualquer transtorno a não ser a própria espera.

A travessa de batatas fritas que dava para 4 pessoas, ficou só para mim.

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A deliciosa mousse de abacate regada com mel e coberta a canela fizeram os meus olhos rodar para trás e mesmo assim ainda houve espaço para uma “tigelinha” de salada de fruta.

Estava agora com os níveis do meu metabolismo um pouco mais equilibrados.

Ficaria uns dias por Lilongwe, onde tentaria preparar com “pés e cabeça” o novo roteiro por terras Moçambicanas.

Além que teria que repor o stock de géneros alimentares e adquirir algum material para a bicicleta.

2 comentários:

  1. Fartei-me de rir com a tua descrição do jantar e as sensações que te causou...risota que me perdoarás porque nunca estive nessa situação.
    Ficamos mto contentes que tenhas comido à maneira. Força! titi

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  2. comeu que nem um abade. ja tinhamos saudades de o ver o comer assim.
    Forca.

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