A etapa até Katete não seria tão longa como as últimas etapas. Pela frente teria uns meros 90Kms e sem grandes elevações, pois já me encontrava no planalto que se estendia até ao Lago Malawi.
Tomei um bom pequeno-almoço acompanhado por mais um pacote de esparguete instantâneo para dar a energia necessária para a etapa.
Iniciei a jornada às 9h00.
Estava um bom dia para andar de bicicleta. Temperatura agradável, pouco vento e a moral em alta. Estava pronto para enfrentar mais uma etapa, que me levaria 90Kms para Este.
O dia passava-se tranquilamente. As pernas estavam doridas devido às longas etapas dos dias anteriores, mas mesmo assim conseguiam desempenhar a tarefa para o qual estavam designadas.
Até ao final do dia iria decidir sobre um dos 3 trajectos recentemente idealizados.
Os pontos comuns aos 3 percursos eram as cidades de Lichinga e de Pemba as quais havia introduzido recentemente nos meus planos.
Não me limitaria a ficar por Nampula nem pela Ilha de Moçambique para depois descer para Sul, tal como inicialmente planeado.
Eu estava disposto a fazer um desvio de 1000Kms para visitar as cidades pretendidas.
No entanto estava inclinado para seguir directamente para Lilongwe (Malawi) e rumar em direcção a Mandimba, na fronteira de Moçambique (itinerário azul). O facto de ter decidido aumentar o percurso por terras Moçambicanas não me permitiria despender muito tempo a fazer quilómetros no Malawi.
Os itinerários a verde e a vermelho representam os outros dois percursos alternativos, enquanto o itinerário a cinza representa o percurso comum aos três trajectos (já em território Moçambicano).
A estrada tranquila e a paisagem mais apelativa que nos dias anteriores, convidavam para uma série de cálculos e de reflexões acerca dos possíveis itinerários.
Duas horas depois de iniciar a etapa, a fome atacou.
Eram as 11h00 e eu fui forçado a recorrer às minhas deliciosas bolachas de chocolate para acalmar o vazio que se fazia sentir no meu estômago.
Pouco depois chegava a Sinda, ou seja, o meio caminho entre Petauke e Katete.
Era o lugar escolhido para uma efectuar uma breve paragem, relaxar as pernas e ingerir qualquer coisa a que chamaria de almoço.
No único estabelecimento com aspecto de vender algo comestível, comi o meu saudável almoço.
Duas coxinhas de galinha e um prato de batatas fritas cozinhadas horas antes.
Fosse qual fosse o aspecto ou o cheiro do meu prato… achei que estava divinal.
Se não fosse o facto de ainda ter metade do percurso para pedalar, acho que repetiria a dose para depois me sentar a “jibóiar” o resto da tarde.
Enquanto eu estava distraído a observar outros dois ciclistas a apetrecharem as suas bicicletas…
… o vento ia sorrateiramente impondo a sua presença, de modo que quando reiniciei a etapa este já captava por completo a minha atenção.
A paisagem ia ficando mais interessante com o passar dos quilómetros. Ao longe conseguia ver várias montanhas que embelezavam o horizonte diante mim…
…enquanto na minha retaguarda continuavam a aparecer arrojados ciclistas demonstrando as suas capacidades em cima de uma bicicleta.
Cheguei a Katete às 14h30, ou seja 5h30m depois de ter deixado Petauke.
Katete não era mais que um entroncamento com algumas casas e alguns estabelecimentos comerciais à volta.
A estrada principal seguia em frente para Nordeste em direcção a Chipata e ao Malawi. A estrada da direita seguia para Moçambique e depois em direcção a Tete.
Procurei uma pensão para passar a noite o que não foi difícil de encontrar, pois só havia uma.
Ao ver o aspecto do quarto e da casa-de-banho, perguntei ao recepcionista se a pensão ainda estava em construção.
- Não – respondeu ele – Já está concluída há muito tempo…
Eu ainda tinha um par de horas livres, antes de escurecer. Decidi passear um bocado e dar uma volta pelo cruzamento.
Tal como em todos as povoações, havia em Katete barbearias feitas de chapas de zinco e com 2m2 de área coberta.
Estava numa boa altura para cortar o cabelo. Entrei no cubículo onde fui imediatamente atendido. Enquanto olhava para o espelho onde podia ver floquinhos de cabelo a cair da minha cabeça, notei que eu nunca tinha andado com um aspecto de cabeludo/barbudo durante toda a minha viagem.
Lembrava-me que quase todos os sites ou blogs de outros viajantes, estes apareciam várias vezes com um aspecto à Robinson Crusué.
Quando quis me levantar da cadeira do barbeiro, senti que as pernas não conseguiam elevar o meu corpo. Estavam doridas e massacradas, exigindo alguma atenção e repouso. Teria que programar uma paragem para a recuperação física.
A próxima etapa estava escolhida. Seria até Chipata, a pouco mais de 80Kms de Katete e já muito próximo da fronteira com o Malawi.
Vai ser "só" um desviozinho de 1000km, o que é que é isso em cima dumas pernas que já pedalaram... Quantos??? 3400km??? Brincadeirinha! Até fazes isso só com uma perna!
ResponderEliminarQuando realmente chegares ao teu destino é que vais ver o que dói... E não vão ser as pernas... :)
Beijos, Cris