Preparação das Últimas Etapas em Angola

Os dias passados em Luena tinham três objectivos principais:
  • Preparar as próximas etapas da viagem;
  • Descansar as pernas e o corpo;
  • Revisionar a bicicleta;

A preparação da viagem assentava em algumas incógnitas tipo “pescadinha de rabo na boca” mas de fácil exposição e resolução.
Seriam cerca de 360kms até Lumbala N’Guimbo e talvez mais 70kms até ao Posto Fronteiriço de Mossuma. Tudo dependeria do estado da estrada e das populações existentes ao longo do percurso, para que pudesse efectuar um cálculo dos dias necessários para chegar a Lumbala N’Guimbo.
De seguida restava saber o estado da estrada de Lumbala para Mossuma e saber se seria possível percorrê-la num só dia.
Dias de viagem calculados, faltava apenas adicionar um ou dois dias do denominado “coeficiente de cagaço” para os imprevistos. Uma simples subtracção do valor encontrado aos dias restantes no visto de turista em território Angolano e estavam encontrados os dias que poderia permanecer em Luena. Como nenhum dos valores encontrados tinha o mínimo de credibilidade, considerei a possibilidade de ficar em Luena mais uns dias e prorrogar o visto por mais 30. O que originaria novos cálculos, com novas datas e nova programação.

DSCF2643
Dirigi-me ao Posto da Policia Municipal de Luena para consultar a opinião do Comandante Vitorino acerca do estado e segurança da estrada. Segundo diziam os leões estavam “lá mais à frente” na zona entre Lucusse e Lumbala N’Guimbo.
Segundo o comandante, a estrada até Lucusse fazia-se bem. Tinha zonas asfaltadas e zonas em terra batida, mas de uma maneira geral a estrada estava em bom estado e eu poderia avançar sem problemas. De Lucusse para a frente, havia uma estrada muito antiga ainda do tempo colonial mas que permitiria circular com alguns zig-zag’s para contornar os buracos.
Em termos de segurança, não teria problemas nenhuns. Nem com assaltos, nem com leões pois há mais de um ano que não se viam leões por aquelas bandas.
O Comandante Vitorino forneceu-me mais uma informação valiosa. Estávamos na época das cheias e a estrada de Lumbala N’Guimbo até à fronteira (Mossuma) estava certamente debaixo de água. A única alternativa seria apanhar o barco no porto de Lumbala e seguir directamente para Kalabo ou Mongu (já na Zâmbia). Tudo dependeria se os troços de ligação entre estas povoações estariam ou não submersos. A viagem até Mongu duraria quase 24 horas e a noite seria passada no barco.
Não me fiz muito rogado e até parecia-me interessante. Depois de pedalar por uns quatro ou cinco dias, passaria um dia completo numa embarcação a descer o rio e a descansar as pernas. Possivelmente até poderia arranjar um canto onde montasse a tenda e dormir protegido dos mosquitos ao som do motor da “bateira”.
Segundo o Comandante seria um barco com um misto de passageiro, carga e animais. Mas uma vez que não poderia entrar na Zâmbia por via terrestre e em cima da bicicleta, teria que aceitar esta solução. Seria certamente uma experiência diferente e um dia passado dentro de um barco por questões logísticas, não iria encarvoar os princípios da minha viagem.
Os dias que calculei para a viagem até Lumbala N’Guimbo eram à justa com os dias restantes no visto. Se acontecesse algum imprevisto, ultrapassaria o período que legalmente poderia permanecer em território Angolano.
Dirigi-me ao Serviço de Estrangeiros de Fronteiras de Angola (SEFA) para obter informações sobre a prorrogação do visto e já agora sobre a estrada para Lumbala N’Guimbo. Rapidamente juntou-se uma série de pessoal a dar-me todo o tipo de informações.
Em caso extraordinário eu conseguiria o visto em quatro ou cinco dias, mas isso era tempo demais para eu ficar em Luena. Além que os USD necessários para a extensão do visto iriam fazer-me falta mais à frente. Fiquei de meditar sobre o assunto e daria uma resposta mais tarde, mas quase de certeza que não progorraria o visto e arriscaria chegar à fronteira em tempo útil.
Restava agora saber o que necessitava para entrar na Zâmbia. Como cidadão da EU preciso apenas do passaporte e o visto é dado à entrada do país, mas porDSCF2644 via das dúvidas decidir ir ao Consulado da Zâmbia adiantar serviço.
Fui à boleia com um dos funcionários do SEFA, que gentilmente se predispôs a levar-me até ao Consulado na sua motorizada.

Eram as 11h30 quando entrei nas instalações do Consulado e por sorte dei de caras com o Cônsul que estava à porta da recepção.  Expliquei-lhe o que fazia em Luena e a razão de querer entrar na Zâmbia, rumo a Moçambique. Não foi necessário gastar mais do que 5 minutos do meu latim (neste caso, inglês), pois o Cônsul já havia instruído a secretária que o meu visto teria que estar pronto dentro de uma hora. Agradeci a cordialidade e fui a correr para o hotel do César a fim de efectuar o check-out do quarto. Iria passar para a casa do Max Pimentel, o arquitecto brasileiro que conheci na estrada de Camanongue no dia anterior.
As pernas e o corpo iam descansando como podiam, entre caminhadas pelas ruas de Luena e a lavagem manual da minha roupa e bicicleta.
Durante as inspecções de DSCF2658manutenção à bicicleta, descubro que o suporte dos alforges estava partido em 2 sítios. Era de admirar como haviam resistido à pancada toda que levaram nos últimos 200kms e milagrosamente não me deixaram apeado no meio da picada.


DSCF2661Procurei saber com o Max onde poderia encontrar soldadura a gás para soldar o braço do suporte, mas pelos vistos isso era coisa rara por estas bandas. Quanto à braçadeira partida, não me causava grande preocupação. Qualquer bocado de chapa enrolado faria o mesmo efeito.
Arrisquei e fui reparar o suporte nos soldadores tradicionais que estão um pouco por toda a parte com as suas bobines a fazer de máquinas de soldar.
Quando vi o soldador a pegar no meu suporte com uma mão e o porta-eléctrodos na outra mão, depressa apercebi-me que seria a última vez que o meu suporte chamar-se-ia “suporte”. Imediatamente tirei-lhe o suporte da mão e expliquei-lhe o que fazer para evitar que este derretesse o tubo que estava partido.
Enfiei uma barrinha de aço de construção dentro da tubaria do suporte para aumentar a sua resistência à flexão e para evitar que o soldador derretesse tudo onde tocasse com o eléctrodo.
DSCF2666
A solução resultou e o trabalho realizado no primeiro braço do suporte ficou dentro das minhas expectativas mínimas.
DSCF2674Mas era muito cedo para cantar vitória, pois decidi pedir para cortar o segundo braço e fazer exactamente o mesmo tipo de reforço (antes que este braço partisse no caminho).

Desta vez, o soldador foi capaz de estragar o aceitável serviço que tinha feito antes, além que encheu de pingos de solda os parafusos que prendem o suporte à bicicleta.

Resultado… paguei-lhe metade do serviço e quase lhe fiz pagar os parafusos que destruira. Felizmente eu tinha parafusos suplentes dentro dos alforges, mas o soldador não precisava de saber isso.

A bicicleta estava agora pronta para enfrentar as últimas etapas em Angola.
DSCF2689
A partir de Luena iria mergulhar no que muitos consideravam como desconhecido. Estava preparado e animado para seguir em frente, de modo que já sentia o nervoso miudinho dos músculos das pernas a pedirem por pedaladas.
Imperava agora a ansiedade de partir e que não me deixava dormir.

9 comentários:

  1. Parece-me quase uma revisão da matéria dada, pois por msg ou de viva vós já me tinha resumido estes episódios.
    Nesta altura, como se diz, Luena já está milhas.
    Não a milhas mas já para trás fica também Sesheke, na Zâmbia.
    Espero que não apareçam mais estradas de areia!
    Um grande abraço e boa pedalada.
    Nota: Os Leões estão todos em greve de fome. É de aproveitar!

    Fernando Jorge

    ResponderEliminar
  2. Por pouco mais o soldador fazia-te um semi reboque capaz de carregar com a bicicleta ....
    Com aquela soldadura podes carregar um boi em cima que ela resiste !
    Ânimo e coragem não te faltam .
    Nós cá ,continuamos a "torcer" sentados no sofá.
    Abraço
    Ângelo

    ResponderEliminar
  3. Nao caias naquela do teste da tribo para ver se es homem. Beber 5 litros de agua ardente, desflorar a virgem e pentear um leao que, se te conheço, ainda cabas a pentear a virgem.
    ;)

    Boa viagem! Quero ler a aventura do barco. :)

    ResponderEliminar
  4. Grande Pedro !!! tomei conhecimento da tua aventura hoje dia 5/5/2010 conheço Angola sei como as coisas são ai não me importava de estar ai numa aventura como esta espero que tudo corra bem e muito boa sorte !!!! João GT !!!

    ResponderEliminar
  5. Olha se a ASAE visse como o serralheiro faz o trabalho!!!
    Força aí!
    Grande abraço
    Carlos Miguel

    ResponderEliminar
  6. Então Mein do Mato !!!estás a aumentar o peso a bike com essas barrinhas !!!adicionado com o esses super cordões ! ! ! Boas pedaladas...

    ResponderEliminar
  7. Que aventura! Nem sei que diga! Estou a torcer pelo teu sucesso nesta viagem...

    ResponderEliminar
  8. OH RIGHT!!!! Podia dar-te de facto para pior, mas ok, forca nisso!!!! grande abraco.

    ResponderEliminar
  9. Grande Pedro Fontes com Humildade e Perseverança vais conseguir levar a tua alma e bike a bom "porto"
    Humildade vem do Latim humus que significa "filhos da terra". Refere-se à qualidade daqueles que não tentam se projetar sobre as outras pessoas, nem mostrar ser superior a elas. A Humildade é a virtude que dá o sentimento exato da nossa fraqueza, modéstia, respeito, pobreza, reverência e submissão.
    Perseverança - É a firmeza ou constância num sentimento, numa resolução, num trabalho, apesar das dificuldades e dos incômodos.
    Força Companheiro
    Abraço Amigo
    Nuno Sacra

    ResponderEliminar