A informação recebida desta fonte de sapiência popular era que as nuvens iram passar na outra direcção e era mais que certo que não choveria em Xá-Muteba nem na direcção em que eu seguiria.
Não sei bem porquê, mas 3 Kms depois de ter saído de Xá-Muteba
Pela primeira vez tive a sensação de me ter enganado na estrada, apesar de não ter visto nenhum cruzamento ou bifurcação. Havia mais de 30 minutos que não via vivalma e o facto da qualidade da estrada ter piorado significativamente, fazia-me crer que estava a seguir algum tipo de estrada de acesso. Continuava a chover… agora moderadamente… o que me obrigou a procurar o abrigo da copa de uma árvore para analisar o mapa e tirar algumas dúvidas de localização. O mapa era claro. Havia uma estrada que vinha de Xá-Muteba e que a dada altura de dividia na estrada para o Cuango e na estrada para Capenda Camulemba. A questão era simples… pelas minhas contas quilométricas, eu já tinha passado a referida bifurcação. Pela minha memória visual, não havia passado bifurcação nenhuma. Tentava estudar o meu mapa de Angola e orientar-me, ao mesmo tempo que a chuva desbotava a impressão em papel normal. Após alguns segundos a tentar perceber a posição q
Reiniciei a pedalada para 5 minutos depois encontrar um motociclista que vinha em sentido contrário. Perguntei-lhe se estava na estrada para Capenda Camulemba e prontamente recebi a resposta que eu queria ouvir “É ali à frente… vai chegar”… (ali à frente são mais de 60kms…).
Cheguei a Muxinda na hora do almoço, tal como havia planeado na noite anterior no posto da policia de Xá-Muteba. Cruzei a vila toda com alguns populares a correrem para a estrada e gritar palavras de incentivo. Mais tarde vim a saber que a vila já estava avisada… “Vem aí um branco de bina…”. Os camionistas que ali passaram durante estes últimos dias já haviam transmitido a informação que vinha alguém de bicicleta desde Luanda.
Almocei uma muamba de galinha (sempre funge) no restaurante da vila, sob o constante
Cheguei a Capenda Camulenda às 15h20 onde fui graciosamente recebido pelos agentes da autoridade. Estavam à minha espera, pois o posto de Xá-Muteba havia tido o cuidado de informar os seus colegas de Capenda que iria passar um ciclista carregado de malas e para dar o apoio necessário no caso de precisar de lugar seguro para montar a tenda.
Seja como for, o meu objectivo era chegar a Xamiquelengue, uma pequena povoação a 45kms de Capenda. Teria que andar rápido para evitar chegar ao entardecer, porque mantendo a média que trazia deveria chegar em 3 horas.
O vento de frente era uma constante desde que saíra de Luanda, que aliado às longas subidas existentes não me permitia manter a velocidade média desejada. Tentava aplicar mais força nos pedais com o objectivo de recuperar o atraso, no entanto as pernas desgastadas não conseguiam manter o ritmo por muito tempo e acabava sempre por voltar à minha velocidade cruzeiro. Ia alimentando-me com bolachas de banana com o propósito de ingerir algumas calorias que fornecessem os músculos com a energia necessária para continuar por mais um par de horas…
Começava a entardecer e os óculos de sol eram agora completamente desnecessários. Fazia as minhas contas de previsão de chegada ao destino e as mesmas não eram boas. Quase de certeza que iria chegar de noite, coisa que não me agradava nada de nada.
Tinha os músculos do pescoço, ombros e braços também doridos devido à posição e às horas que levava em cima da bicicleta o que fazia desta etapa algo mais complexo do que simplesmente pedalar.
A luz do dia era praticamente inexistente e o receio de encontrar com algum tipo de felino começava a pairar. Estava há pelos menos 30 minutos sem ver ninguém e apesar de estar próximo de Xamiquelengue, nunca chegaria antes de mais 1h30 a pedalar. Ouvia diversos ruídos oriundos do meio do mato mas nenhum deles com características alarmantes. A dada altura vejo uma pessoa na estrada e depois de lhe dizer”Boa noite!”, perguntei-lhe apenas a título de curiosidade se havia leões naquela área. “Aqui não… só mais lá à frente… no Moxico…” Fiquei bastante mais descansado, pois o “lá mais à frente” era mais de 300kms.
Um pouco mais à adiante conheci o Fernando, um português que trabalhava em Angola e que já sabia da minha chegada a Xamiquelengue através de um amigo de um amigo, o Loff Sérgio. Informou-me que estava tudo preparado para o meu alojamento e alimentação nas instalações dos Tozé Salufuma onde eu não teria que me preocupar com nada. Fantástico! Só faltava cerca de uma hora a pedalar quase no breu.
Apliquei então o farol traseiro na bicicleta e à frente seguia apenas com uma pequena luz de presença, mais para ser visto do que para ver. Seguiu-se uma hora a pedalar cheia de ansiedade e a pensar no jantar que poderia estar à minha espera.
Não sabia o que era Xamiquelengue, se uma aldeia, se um cruzamento ou uma rotunda. Sabia apenas que este ponto não vinha
Ao longe a iluminar o contorno de uma colina, identifiquei um pequeno clarão que oscilava de intensidade. Após uns segundos de observação não conseguia distinguir se era carro, mota, camião ou simplesmente a aldeia ou vila.
Ainda estava muito longe do clarão e o facto da intensidade da luz variar ligeiramente, fazia-me suspeitar que fosse algo em movimento. Desejava que não fosse nenhum carro, nem nenhum outro veículo. Queria apenas que a luz se mantivesse constante… sinal de povoação. Foram uns longos minutos (talvez 10 ou 30) que pedalei com este cenário à minha frente quando por fim ouço o som inconfundível de uma barraca de bebidas, com a sua música a altos berros. Cheguei! À entrada em Xamiquelengue deparo com a rua repleta de gente, que cruzava a estrada de um lado para o outro. A iluminação era feita por pequenas lamparinas a petróleo ou mesmo por lâmpadas com ligações eléctricas improvisadas. O som das barracas de bebidas que se amontoavam ao longo da estrada impedia que os transeuntes ouvissem a minha aproximação e por diversas vezes tive que fazer uns desvios súbitos para evitar que alguém ficasse debaixo dos meus rodados.
Facilmente dei com a entrada das instalações do Tozé Salufuma e após apresentações fui conduzido aos meus aposentos.
Tinham reservado um anexo com cama e jantar para mim. Que mais poderia pedir? Após um banho a balde deliciei-me com uma pratada de carne, arroz e batata. O meu apetite voraz começava-me a deixar incomodado e embaraçado. Há dias que comia tudo o que me punham à frente. Desta vez não foi excepção, comi e repeti. Rapei a travessa e quase que fui buscar comida à travessa do vizinho. Acho que estou a engordar!
Obrigado a toda a Equipa da Sinergia e do Tozé Salufuma de Xamiquelengue pela hospedagem e alimentação.
curioso,
ResponderEliminarvim eu de Angola até Aveiro para naturalmente engordar e vais tu de Aveiro até Angola para fazer o mesmo!!
Aproveita a travessia de Angola pois vá-se lá saber o que gastronomia te espera na Zâmbia.
Aquele abraço gordo
Mestre Fontes,
ResponderEliminarUma pergunta. Qual tinha sido o máximo de km's que tinhas feito em bicicleta antes desta aventura?
Grande abraço e não te esqueças de cortar à esquerda em Albuquerque
Nuno Oliveira (Caçapava)
Então Mein do Mato ! ! ! Agora estás com medo dos leões ??? força e guia pela beirinha... Abraço e beijos de todos
ResponderEliminarQue bom que acordes feliz!
ResponderEliminarNo te preocupes por los leones, en teoría en tu lista de cosas para llevar tenías un "spray anti leones", no? ; )
Bjnho e mais força
É Pedro parece que em África "já ali" é sempre meio Portugal mais à frente... Boa Sorte para o "restito" da Viagem :) é já ali à frente!
ResponderEliminarO Eduardo quer um autógrafo e eu também já agora!
Acho que vou mandar a SIC fazer a cobertura da travessia :)... Tanta gente famosa por nada. E tu com "feito" destes. Isto é muito mais que um reality show!
Animal, ja te pus no meu facebook com o titulo Fontes Gump.
ResponderEliminarBoa sorte e ve la se es papado por um leao.