Acordei às 6h00 com a luz do dia a atravessar as finas cortinas da janela do quarto. Dormi que nem um menino e acho que dormia mais umas horas, não fosse o caso de ter que iniciar a pedalada até Xá-Muteba.
Tomei o pequeno-almoço em casa do comandante Vicente e logo após as despedidas, iniciei a pedalada com destino a Xá-Muteba, uma pequena povoação a 125kms de distância.
Começava a sentir dores no interior das nádegas logo pela manhã, obrigando-me a pedalar em pé com mais frequência.
Enquanto pedalava, dava comigo a fazer cálculos mentais para manter a mente ocupada e abstrair-me dos músculos doridos que começavam a incomodar-me. Calculava velocidades médias e previsões de chegada para depois comparar com o GPS (não fosse este cometer algum erro). Calculava também quantos Km/dia e quantos dias iria demorar até chegar a Saurimo.
Começava a ter uma certa dificuldade para distinguir os dias e quando me questionavam há quantos dias havia saído de Luanda, era-me difícil dar uma resposta concisa sem ter que fazer contas pelos dedos da mão.
Ainda não fiz contas quanto aos quilómetros percorridos, mas quando olho para o mapa de Angola vejo que já completei cerca de 1/3 do percurso em território Angolano.
Tentei por diversas vezes fazer um balanço dos primeiros dias de viagem, mas creio que não cheguei a grandes conclusões. Continuava a encarar esta viagem como uma coisa “normal”, apesar de pedalar num país onde nunca tinha estado antes e apesar de nunca saber onde iria passar a próxima noite. Sentia-me confortável, ambientado e a pedalar como se estivesse em casa. A adrenalina do “incerto” ainda não tinha feito efeito.
Creio que a verdadeira aventura iria começar após Saurimo, onde segundo dizem, acabava a estrada alcatroada.
Já era bem visível o distanciamento aos centros populacionais. A distância entre aldeias era cada vez maior e encontrar vendedoras de fruta ao logo da estrada era agora mais raro. Passava agora longos períodos de tempo sem ver alguém ou algum veículo.
Os sinais dos anos de guerra eram por seu lado, mais visíveis. Desde aldeias com edifícios completamente destruídos, às carcaças de veículos militares ao longo da estrada, até às inúmeras árvores pintadas a vermelho (sinal de área minada).
Perto da hora do almoço, cruzei o rio Lui que faz de fronteira entre a Provincia de Malange e a Provincia da Lunda Norte. Perguntei no posto policial onde poderia almoçar e foi-me indicado a tasca da dona Vitó, umas centenas de metros mais à frente.
Dirigi-me para a referida tasca e almocei um delicioso funge com banha de porco. Tenho comido funge quase todos os dias e por vezes até duas vezes ao dia. Acho que era capaz de me alimentar a funge durante toda a viagem. Enche bem a barriga e parece que dá a energia necessária para enfrentar os percursos que se seguem. Havia feito 60kms da parte da manhã, e ainda faltavam outros 65kms para chegar a Xá-Muteba.
O tasco da dona Vitó estava frequentado por alguns camionistas que para além de me darem alguns conselhos sobre a estrada, ainda proporcionaram momentos de distracção e bom humor.
Da parte da tarde viria a dar de caras com um mini Morro do Binda. Era um morro com a mesma inclinação, mas muito mais curto. Sentia-me bem e o funge que trazia no estômago ajudou-me a subir o morro sem ter que parar para descansar.
Esta tarde tive direito a uma pequena perseguição policial devido a não ter parado para ser identificado num dos postos de controlo. Então, uns 3 ou 4 kms à frente, aparece um policia de moto ao meu lado a fazer inúmeras perguntas. Todas elas relacionadas com a bicicleta e o meu trajecto. Satisfeita a curiosidade, o agente da autoridade deu meia volta e regressou ao seu posto. Um minuto mais tarde ouço novamente a mota atrás de mim. Era o mesmo policia de há pouco. Tinha-se esquecido qual o propósito da “perseguição”, ou seja identificar-me. Dei-lhe o nome, a naturalidade, a idade, o nome do pai e da mãe, mas como este provimento de informação foi feito sempre em movimento duvido que ele se lembrasse de alguma coisa quando chegou ao seu posto.
Pelo caminho, conheci o Gil, um arquitecto que trabalhava em Saurimo e que já tinha-me visto uns dias antes quando este se deslocava para Luanda. Trocámos números de telefone e combinámos encontrarmo-nos em Saurimo. Ainda ganhei 2 peras que fizeram milagres para a minha prestação física durante o período da tarde.
Tinha a pele a arder em várias zonas do corpo, não sei se devido a algum fundo, alergia ou picada… ou se simplesmente devido à transpiração. Também me ocorreu ser devido à possibilidade de haver resíduos de detergente na roupa e que estava a causar tais irritações. Seja como for, a solução era simples… não coçar para não irritar mais.
À chegada a Xá-Muteba, dirigi-me para o posto da policia para procurar um lugar onde montar a tenda. O comandante do posto, já tinha sido avisado da minha chegada pelo comandante Vicente e assim fiquei com a situação de alojamento muito mais facilitada.
Depois de ser identificado pelo Oficial de Dia, ritual que já estava habituado, preparei a minha tenda dentro de um dos gabinetes disponíveis e fui tratar do meu banho.
Passei o serão no Posto a preparar a etapa do dia seguinte. Todos os agentes que ali se encontravam davam a sua colaboração relativamente a distância, melhor lugar para almoçar e lugar para pernoitar, além das elevações que eu iria encontrar até Saurimo.
este site foi indicado por um amigo nao conheço e admiro a sua aventura so foi pena nao saber mais cedo que lhe fazia companhia
ResponderEliminarcontinuação de boa viagem e que td corra bem
abraço paulo dias
Pedro:
ResponderEliminarFantástica a sua aventura africana que acompanho por indicação de amigos de Luanda. Estarei acompanhando e torcendo para que tudo corra da melhor forma.
Epá, estou a curtir muito. Estás a escrever bem (quase tão bem como a pedalar). Imagino que haja muito mais, mas parece que a viagem está toda aqui no blog.
ResponderEliminarUm grande abraço, sorte e força,
David
Pedro,
ResponderEliminarNão te esqueças do protector solar...
Bjs e Boa Sorte. Estamos aqui todos a acompanhar-te nesta viagem. Beijinhos
Kavak
ResponderEliminarMestre é mestre.
A Jungle tribe segue atentamente mais uma prova de fogo
Pensei que já tivesses desistido...mas estou a ver que é mesmo a sério!
ResponderEliminarForça aventureiro!