O quarto da casa Protocolar onde passara a noite, não tinha acesso à cozinha e a maneira mais rápida de preparar o meu pequeno-almoço era dirigir-me à cozinha da casa da Administradora Adjunta para pedir que me fervessem água. Cozinhei o meu esparguete instantâneo com sabor a galinha em poucos minutos mas depois estive quase uma hora à espera que 7 litros de água atingissem o ponto de ebulição. Era a primeira vez que iria beber água do poço, pois a água mineral deixara de estar disponível para venda nas pequenas lojas de Lucusse.
De nada adiantou acordar cedo, pois com a história de ferver a água que iria beber durante o resto do dia, acabei por sair de Lucusse apenas às 8h45.
Aquilo que começou por ser um dia sem vento, depressa mudou para um dia com vento e em sentido contrário. Rapidamente as pernas acusaram este aumento de resistência à minha deslocação e a velocidade média baixou consideravelmente.
Continuava a pedalar inserido nos cenários do National Geographic, com o capim à altura da minha cabeça, umas árvores ao longe a delimitar o horizonte e um silêncio incomodativo apenas quebrado pelo vergar das bainhas de erva devido ao vento que se fazia sentir. Estava agora a atravessar a zona onde havia a maior probabilidade de me encontrar com leões, apesar de os poucos habitantes com quem me cruzei garantirem que não encontraria nenhum leão desde que não andasse à noite.
Não me lembrava quando tinha sido a última vez que comi bananas e ia enganando o estômago com bolachas e água quente, sempre na expectativa que de encontrar uma aldeia com vendedoras depois da próxima curva.
Devido aos anos de guerra, grande parte da população do interior do país deslocou-se para as cidades, deixando para trás as suas aldeias e campos. Foram necessárias quase duas horas a pedalar até que encontrasse as primeiras gentes e a sua aldeia. Perguntei no único local que vendia alguma coisa, se tinham bananas mas após uma breve investigação ao balcão de vendas decidi-me por meia dúzia de tomates.
Pouco antes do meio-dia, um manto uniforme de nuvens claras cortava a acção perfurante do Sol fazendo parecer que o fim-de-tarde tinha chegado. A temperatura ambiente ficou mais agradável mas em nada mais tranquilizadora. Eu desejava Sol… muito Sol e muito calor…
O dia encoberto e fresco poderia fazer com que algum felino confundisse a hora da refeição, abandonando a tranquilizante hora de repouso debaixo da sombra de uma acácia e aventurar-se em busca de alimento.
Perto das 14h30 cheguei à comuna do Luvei, 6 horas e 98kms depois de ter deixado Lucusse. Tal como em todas as vilas e aldeias por onde passara, os vestígios da arquitectura e da engenharia do território portuguesas estavam em todo o lugar, no entanto completamente destroçados por uma guerra sem escrúpulos.
Dirigi-me ao pequeno aglomerado de lojas que faziam de Centro Comercial, para poder hidratar-me com um Cola que diziam estar fresca, só por estar à sobra e dentro da loja. Encontrei bananas no balcão da loja do lado para saciar a minha fome. Aproveitei comprar dois cachos de bananas. Um para o almoço de hoje e o outro para a longa viagem do dia seguinte, até Lumbala N’Guimbo.
Com o estômago ajeitado, dirigi-me ao edifício da Administração para informar que tinha chegado. Apresentações consumadas e após o administrativo retirar os meus dados de pessoa estrangeira, estava na altura de saber onde poderia montar a minha tenda. No meio de diversas sugestões dadas pelos elementos presentes, alguém sugeriu que ficasse em casa do Administrador Adjunto. Este um pouco surpreso pela sugestão ter vindo de outrem, aceitou ceder um quarto da casa para que eu pudesse passar a noite.
Tal como a casa da Administração de Lucusse, esta casa era também um edifício novo parte do projecto de reconstrução de Angola, apesar de ainda não ter água canalizada nem gás para o fogão.
O banho do dia e a lavagem de roupa teriam que ser no rio, cerca de 500 metros da aldeia.
Em conversa com os meus novos amigos, tentava obter informações acerca da estrada para a fronteira com a Zâmbia. Neste ponto todos foram unânimes na informação prestada. A estrada estava submersa devido às cheias e a única alternativa seria atravessar a fronteira de canoa.
- “Canoa?” Perguntei admirado. “Mas também há barco a motor, não há?” - A resposta foi pronta e esclarecedora - “Sim… tem barco com motor lá mesmo…”
Explicava-lhes quantos quilómetros havia percorrido desde que saíra de Luanda e quantas horas pedalara no dia de hoje, quando um deles afirmou pasmado “Por pedalar tantas horas por dia é que tem as pernas roxas!”. Foi estranho explicar-lhe que a diferença de cor que ele via nas minhas pernas, era originada pelos calções que delimitavam a minha tonalidade original e a zona de pele bronzeada. Expliquei-lhes que o “branco” quando apanha muito sol fica com cor de camarão cozido e depois (se a pele não cair) fica bronzeado tal como estavam as minhas pernas e braços.
Não havia cantinas em Luvei e o fogão da casa não tinha botija de gás. A solução era cozinhar o meu jantar nas traseiras da casa com um pequeno braseiro a carvão.
A cozinha da casa estava provida de uma panela, a qual utilizei para ferver a água que usaria para cozer o esparguete. Uma vez que a água demorava a ferver, achei por bem optar por preparar esparguete suficiente para duas refeições. Assim pouparia tempo a cozinhar o meu pequeno-almoço na manhã seguinte.
A ideia até não era de todo disparatada, não fosse o facto de eu ter comido metade de um pacote de esparguete ao jantar, deixando a panela vazia.
Teria obrigatoriamente que cozinhar o meu pequeno-almoço na manhã seguinte.
Enquanto degustava o meu delicioso esparguete com atum aproveitei para ferver a água que trouxera do rio, a qual iria beber no dia seguinte. Assim pouparia mais de uma hora nos preparativos da etapa.
O percurso de 130kms de Luvei até Lumbala N’Guimbo seria a última etapa de bicicleta em território Angolano. O resto seria feito em um dia de viagem de barco até à Zâmbia. Aproveitaria esse dia, passado a navegar rio abaixo, para descansar antes de iniciar viagem em território Zambiano.
É difícil comentar .
ResponderEliminarBravo !
Ângelo
Por do Sol em Luvei...wow! sem palavras
ResponderEliminarBeijo,
Pauli
Depois da tua insistência estive para te mandar passear em vez de comentar, mas depois lembrei-me que a passear já tu estás!... Pedalar a soluços de esparguete e bananas é um luxo, o que é que queres mais? Só incentivos de gatinhos...
ResponderEliminarPedro... estas gordo!!! K se passa ctg? Essas "paneladas" de massa fornecem energia mas engordam... tens de reforcar os pneus [os da bicicleta]. Oh right!!! Abraco...
ResponderEliminarCuidado com os leoes pa....
HISTORIA: (do grego antigo historie, que significa testemunho, no sentido daquele que vê) é a ciência que estuda o Homem e sua acção no tempo e no espaço, concomitante à análise de processos e eventos ocorridos no passado.
ResponderEliminarLIVRO: é um volume transportável, composto por páginas encadernadas, contendo texto manuscrito ou impresso e/ou imagens e que forma uma publicação unitária (ou foi concebido como tal) ou a parte principal de um trabalho literário, científico ou outro.
EDITORA: é uma organização que coordena a publicação de obras literárias, discográficas e impressos, como jornais e revistas. Em geral as editoras se especializam em um tipo de publicação e área: livros, partituras, livros didácticos, obras de referência, jornais, discos ou outros. Em geral também é a editora que arca com os custos de produção, divulgação e distribuição.
FORÇA AMIGA PEDRO FONTES.
Nuno Sacra.
Só hoje tive conhecimento da tua aventura. Força !!
ResponderEliminarUm grande abraço do teu primo Marcelo
Hey !! Best wishes from your Australian Coke-Supply vehicle (remember on the way to the Vic-Falls)????
ResponderEliminarI'll always have a cold one for you in the fridge (or 2-5).
I wish you have always enough air in your tires and never run out of breath!! Happy cycling
Andreas (Melbourne, Australia)
Caro Pedro
ResponderEliminarForça .....
Concretiza a tua aventura.
De mota seria mais fácil ?????
Ou talvez não.....
Um abraço
Mário Alberto