Eram 66kms de Kalabo até Mongu por via fluvial. Um terço da distância percorrida de Lumbala N’Guimbo até Kalabo, o que me fazia prever cerca de 5 horas de viagem dentro de outro barco.
Queria apanhar o primeiro transporte que partisse para Mongu de maneira que a pudesse aproveitar o resto do dia a preparar as novas etapas, desta vez em território Zambiano.
Deixei a pensão ainda antes das 7h30 de modo a marcar presença no Porto, apesar de ter o meu lugar no barco assegurado pelos gémeos que eram quem coordenava a partida das embarcações e a venda de bilhetes.
Uma vez mais, não sei para quê tanta dedicação para chegar cedo ao Porto, visto que tive de esperar mais de 3 horas pela partida da nova embarcação.
Os gémeos conseguiram-me um lugar numa lancha rápida apenas US$ 2,00 mais caro que o bilhete do barco normal e com direito a levar a bicicleta a custo zero. O responsável pelo barco não gostou muito da ideia mas prevalecia a decisão do mais velho, um homem com estilo à Pedro Abrunhosa, que pelo peso da idade era quem deliberava o veredicto final. Por sorte e graças a um dos irmãos gémeos, minutos antes fizera amizade com ele o que acabou por demonstrar-se precioso pois iria viajar em lancha rápida permitindo-me sonhar com apenas 1h45m de viagem.
Despedi-me do Happy e do Gift, que sempre me acompanharam e ajudaram na estadia em Kalabo. Estava na hora de embarcar no Speed Boat e seguir viagem. Desta vez o uso de coletes salva-vidas era aconselhado, uma vez que viajávamos numa lancha rápida.
Continuava emergido numa imensidão de água, que diziam estar repleta de hipopótamos e crocodilos.
Seguíamos ao longo do rio Luanginga, um dos afluentes do rio Zambézi, em direcção a Mongu.
Por vezes utilizando o seu curso principal, outras vezes utilizando atalhos pelo meio do capim.
O patriarca da embarcação seguia à minha frente, sentado voltado para os passageiros e de costas para a proa da lancha, mergulhado em pensamentos que o mantinham à parte da viagem.
Passávamos por diversas aldeias com água à altura dos telhados, fazendo parecer que seus os habitantes viviam dentro de canoas.
As horas de viagem de barco, fizeram-me ponderar no trajecto a seguir após Mongu.
Inicialmente o meu percurso seguiria de Mongu directamente para Lusaka (585kms), atravessando o Kafue National Park. Muito possivelmente a travessia do parque seria interdita a velocípedes, visto ser uma área fortemente povoada por felinos. Se tal fosse o caso, teria que subir para um camião ou carrinha e atravessar os 49kms de Reserva Natural que separavam o portão Oeste do portão Este do Parque.
Em alternativa ao trajecto inicial havia a possibilidade de rumar para Lusaka via Livingstone (988Kms) onde poderia visitar as Victoria Falls, uma das 7 Maravilhas Naturais do Mundo. Em pouco alterava o meu plano inicial caso quisesse seguir para Lusaka, no entanto ficava em aberto a possibilidade de entrar directamente no Zimbabwe sem passar na Capital da Zâmbia.
Às 13h04 atracávamos em Mongu.
Contava agora com um acumulado de 18 horas e 261kms passados dentro de um barco.
Enquanto subia a colina que me levaria ao centro da cidade pude observar o manto azul e verde, cosido a água e capim que se estendia até perder de vista.
Resolvi dar uma volta por Mongu antes de estabelecer-me numa pensão.
Mongu era uma cidade pequena com algumas das infra-estruturas básicas das cidades modernas, no entanto sem nenhuma beleza arquitectónica ou territorial ao contrário do que tinha visto no país vizinho.
Por mero acaso, encontrei uma pensão com muito bom aspecto da qual tive a oportunidade de conhecer os donos. Enquanto expunha os objectivos da minha viagem, os mesmos ofereceram-me (por um preço bastante acessível) um quarto que segundo os parâmetros da minha viagem, poderia considerar de luxo.
Teria que passar algum tempo em Mongu ,a recente decisão de alterar o meu percurso por Livingstone obrigava-me a calcular novas etapas e obter informações sobre o estado e segurança das estradas. Além que teria de me reabastecer de comidas e outros bens de consumo.
Pedro,
ResponderEliminarSou sua fã e estou aqui a torcer por si. Acompanho o seu blog desde o 6º dia, altura em que recebi a informação por e-mail. Desde então que volto sempre para saber se tudo está a correr bem. E enquanto espero notícias (leia-se, enquanto a actualização do blog não se faz) dou por mim a pensar se estará tudo bem consigo e se ainda estará em condições de ver, ouvir, cheirar e falar. Faço um brinde ao homem que é para mim um estranho e que não conheço a não ser deste blog. Parabéns por ser quem. Obrigada pela "invenção" desse lugar, dessa viagem de múltiplos sentidos e aparentemente tão incompreensível e que me chega investida de um sopro de vida.
Kikas