5º Dia (Lucala – Malange)

Segundo o nosso calendário, hoje era Domingo de Pascoa. Mas talvez mais sonante que Domingo de Pascoa, era o 4 de Abril, Dia da Paz em Angola! Comemorava-se hoje o oitavo aniversário do fim do conflito armado que durante tantos anos massacrou e destruiu este país.
Tomei o meu pequeno-almoço num pequeno restaurante perto da pensão onde dormira. Uma boa omelete para dar a energia necessária para um longo dia a pedalar. Ia tentar chegar a Malange (135Kms) cidade que dava o nome à Província.
Ao contrário dos últimos dias, temperatura estava bastante agradável rondando os 26ºC. O céu praticamente sempre encoberto fazendo adivinhar que mais cedo ou mais tarde a chuva iria dar um sinal da sua graça… ou talvez não.
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O trânsito era praticamente inexistente nesta manhã de Domingo, o que me levou a concluir que estavam todos na missa Pascal… ou então a ressacar da noite anterior. Seja como for, para mim foi bastante vantajoso porque apesar da estrada estar em boas condições, as bermas estavam ocupadas pelo capim, obrigando-me a circular um pouco no meio da faixa.
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Sentia-me bem fisicamente e a moral estava elevada. Para trás ficava a tareia que levei para subir o Morro do Binda e as temperaturas acima dos 40ºC.
Pelo caminho ia alimentando-me com o que encontrava… ou seja bananas. Uns minutos perdidos a negociar a fruta com a vendedora, que quase sempre acabava por dar-me as bananas a custo zero e fazia-me à estrada outra vez.
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DSCF2186 Era o quinto dia de viagem… e pelo quinto dia apanhava vento de frente que fazia baixar a velocidade média significativamente. Durante horas seguidas o único som que se ouvia era o do vento a roçar o massivo manto verde que se fazia impor na paisagem circundante. Apesar de relaxante optei por dar outro tipo de som aos meus ouvidos. Uma vez que o tráfego rodoviário era praticamente inexistente, arrisquei e pus pela primeira vez o meu iPod a alimentar-me as pernas com energia musical.
Por vezes lá passava por mim um ou outro ciclista, que no alto do seu orgulho fazia tudo por tudo para me ultrapassar… nem que uns metros mais à frente tivesse que se esconder nas ervas para recuperar o fôlego.
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Parei em Cacuso para almoçar. Comi uma sopa de feijão no restaurante da esquina enquanto a miudagem se amontoava de volta da bicicleta para contar quantas mudanças esta tinha e inspeccionar o estado dos seus pneus. De estômago forrado e após uns minutos a passar pelas brasas, segui viagem. Ainda faltavam 75 kms até Malage, o equivalente a cerca de 4 horas de viagem. Era o quinto dia que passava em cima da bicicleta e o fino selim começava a deixar mossa no meu corpo. Era cada vez mais frequente ter que pedalar de pé com o propósito de activar a circulação sanguínea na parte inferior das nádegas.
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Ao longe via o céu a ficar azul-turquesa, sinal que a tempestade estava a formar-se e que mais cedo ou mais tarde esta havia de cair-me em cima. O melhor seria apressar-me de maneira que tentar evitar uma molha das grandes. Para isso ingeri mais umas bolachas de chocolate e uns figos secos e toca a pedalar.
Esta solução acabou por mostrar-se inútil, pois a de 1 hora de Malange fui obrigado a vestir o impermeável a mim mesmo e à bicicleta de maneira que parecíamos um saco de plástico ambulante.
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Na chegada a Malange procurei pela Praça Central (todas as cidades e vilas têm uma Praça Central com um café) com o objectivo de beber um refresco e tentar encontrar um lugar para pernoitar. Por incrível que pareça, foi-me mais difícil encontrar um lugar para dormir numa grande cidade como Malange, do que nas pequenas vilas por onde havia passado. Ao fim de um par de horas, acabei por ficar no modesto Hotel Malange onde o recepcionista autorizou-me a levar a bicicleta e os seus 30kg de tralha para o quarto, sito no 1º andar. A casa de banho era comum aos quartos todos e só dava para uma pessoa de cada vez. Água canalizada não existia e o banho era feito a balde com a ajuda de um caneco. Aproveitei para lavar a roupa numa das bacias que estava na casa de banho para que a mesma pudesse secar durante a noite.
Fui jantar ao restaurante “O Marco” na avenida principal. Um restaurante tipicamente português onde comi uma feijoada e uma travessa inteira de arroz. Ultimamente tenho andado com bastante apetite. Uma caminhada nocturna pela cidade para facilitar a digestão e estava pronto para ir dormir… não sem antes anotar no meu bloco de papel as memórias do dia.

2 comentários:

  1. ainda estou para perceber como tiraste a foto com a banana na boca :)

    Luis Vieira (C4)

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  2. Dom Pedrooooo!
    É bom saber que ainda andas em aventuras!
    O Luís quer saber das bananas e eu preferia ver as locais e as tuas tosgas.

    Granda abraço
    Tiago Capristano

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