Depois do descanso em Livingstone, estava na altura de regressar aos dias passados em cima da bicicleta.
Iria rumo a Nordeste em direcção a Lusaka, no entanto o principal objectivo não era visitar a Capital da Zâmbia, mas sim seguir relativamente próximo do rio Zambeze e assim tentar visita-lo mais uma vez.
A passagem por Lusaka não constituía uma prioridade de momento uma vez que a hipótese de entrar no Zimbabué estava de pé.
Como primeiro dia de actividade física, escolhi uma etapa mais curta em vez de optar por pedalar grandes distâncias. A etapa seria apenas até Zimba, a 77kms de Livingstone. Se tudo acontecesse pelas leis normais das coisas, eu não teria o vento contra. Quanto muito, estaria vento lateral.
Tomei um bom pequeno-almoço e preparei a água para a viagem. Metade da água foi fervida em cafeteira eléctrica e quando esta deixou de funcionar, passei a usar clorina para desinfectar a água restante.
Demorei mais de uma hora para desmontar a tenda é colocar tudo em cima da bicicleta.
Sem entender muito bem porquê parecia que cada vez, tinha mais volumes sobre a roda traseira. Começava a achar que se continuasse assim, ia acabar por conseguir fazer um encosto para as costas apenas com a minha bagagem.
Pouco minutos passavam das dez da manhã quando despedi-me do Alex, do Steve e da Laura, para dar inicio a mais uma fase da minha viagem pela Zâmbia.
Poucos quilómetros depois de Livingstone, fui obrigado a seguir por um desvio de terra batida pois a estrada principal estava em obras de reconstrução.
Os tanques de água que regavam a picada eram insuficientes e o pó no ar era insuportável, pelo menos para mim que não podia fechar as janelas.
Ainda aguentei uns quilómetros até que um camião passou uma tangente à minha bicicleta. Apercebi-me que com tanto pó no ar seria difícil eu ser visto. Decidi deixar o desvio e passar a circular na estrada que estava em construção e portanto cortada ao trânsito.
Para mim era uma vantagem enorme, pois teria a estrada só para mim durante os 45kms de reparações da via… para mim e para as máquinas do empreiteiro chinês.
Pedalava entusiasmado por ser o dono da estrada. Podia ir de uma berma à outra sem me preocupar com o trânsito. Por seu lado, este seguia no meio do pó pelo desvio que encontrava-se do meu lado esquerdo.
Por vezes apareciam barreiras feitas com troncos de árvore para impedirem que o trânsito local passasse por cima da estrada em reparação. Todavia os troncos não eram barreira para mim, pois conseguia sempre arranjar uns 10cm livres para passar as rodas da bicicleta.
O percurso era maioritariamente a subir, de forma ligeira mas a subir. Sempre que apanhava uma descida, aproveitava para ganhar alguma velocidade de maneira a facilitar a próxima subida.
Numa das descidas, distrai-me com a velocidade e não reparei que a estrada havia recebido recentemente uma rega de cola.
Como resultado, fiquei com uns centímetros e uns quilos a mais em ambos os pneus.
À medida que a roda avançava pela estrada, um filme de cola betuminosa era projectado no quadro da bicicleta, nas malas e pior que tudo… nas minhas pernas.
Os bocados de alcatrão colavam-se à pelagem das pernas com a forma de chiclete mastigada, puxando os pêlos cada vez que as pernas completavam um ciclo na pedaleira.
Numa tentativa de eliminar esta pequena tortura, eu ia arrancando como podia os ditos borbotos, quase acabando com as pernas depiladas.
Agora não havia nada a fazer. Já estava coberto de cola e se decidisse voltar para o desvio, facilmente me transformaria num panado ambulante devido ao pó. A solução seria avançar pela berma (onde a concentração de cola era menor) até ao fim do fragmento de estrada regado.
Quando estabilizei em cima de solo seco, tentei remover os bocados restantes de cola das pernas. No entanto esta havia secado e a tarefa seria mais árdua que o previsto. Acabaria por deixar este feito para o final do dia.
Circulava agora sobre o pavimento novo e já aberto ao trânsito. A estrada estava espectacularmente boa. Tão boa que quase aborrecia.
Decidi pela primeira vez aventurar-me a pedalar sem as mãos no guiador. Se fosse para tentar a proeza deveria ser agora que a estrada estava impecável e não havia trânsito.
Pedalar sem mãos é algo que dominava desde miúdo no entanto e devido ao peso que eu trazia na roda dianteira, bastava um caroço de azeitona na estrada para eu me embrulhar com a bicicleta e rebarbar os queixos no alcatrão novo.
Retirei uma mão e de seguida, com a máxima prudência, retirei a outra mão ficando o guiador totalmente livre.
Desta vez correu bem, mas ainda não sei quando é que vou tentar novamente.
Pelo caminho voltei a encontrar-me com um espécimen do habitat local, que uma vez no meu braço não queria deixar-me seguir viagem.
Cheguei a Zimba ainda era cedo. Procurei um lugar onde pudesse comer qualquer coisa e em seguida foi procurar onde poderia passar a noite.
Zimba era apenas um punhado de casas de um lado e do outro da estrada, por isso não poderia esperar muito em termos de infra-estruturas.
Encontrei o Motel do sítio, em que o preço do quarto era igual ao preço de montar a tenda no recinto. Apesar do aspecto, acabei por ficar no quarto pois poupava-me tempo e dava-me alguma segurança.
Continuava dependente de refrigerantes gaseificados e doces… neste momento estava a beber em média 2 litros de Coca-Cola por dia.
O jantar foi num dos dois únicos locais da aldeia que serviam refeições. Um palheiro que só servia galinha com batata frita ou galinha com nshima (farinha de milho).
Antes de deitar passei por mais uma sessão de remoção do alcatrão ainda colado às pernas, que culminou com alguns magotes de penugem separados do meu corpo.
As noites começavam a ficar frescas, não só por estar quase no pico do Inverno como também devido à altitude.
Voltaram os relatos emocionantes .
ResponderEliminarFicamos sem saber quem são o Alex , e Steve e a Laura .
Vai enviando relatos para acompanharmos de perto a tua viagem
Ângelo
Continua uma viagem e peras...por que o protagonista é interessantíssimo!Gr abraço da titi e restantes.
ResponderEliminarTiti
Amigo,
ResponderEliminartrta de saber a composição dessa cola...cheira-me a negocio lucrativo... Até parece que estou a ver - "Fontes Depil" Depilação rápida e eficaz! Note-se que não disse indolor.
Boa viagem
Força aí branco/mulato maluco!:)))
ResponderEliminarDeve haver aí no meio do mato habitantes que devem pensar que vieste de outro planeta ou enviado por Deus não?:))
Ainda + devem acreditar quando lhes dizes que a combustão do motor da tua "ginga" é a funge e outros derivados!
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Força aí e envia os relatos + depressa pois por vezes parece que vêm mesmo de àfrica....
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Abraço do teu primaço Nuno
Parabéns, cunhado! Diverte-te, aí na tua "crazy ride"! :-) Susana e Gonçalito
ResponderEliminarComo náo consegui neste dia 21 outro contacto ficas deste modo a saber que hoje se lançou um grande HURRA!!! ao grande Pedrinho!
ResponderEliminarTiti e restantes
Pedro,
ResponderEliminarEspero que não estejas a ressacar... E que ainda tenhas tempo de beber mais uma por nós!
Um grande abraço e beijinhos de parabéns!
Rui, Cláudia, Baltasar e Sebastião