Levantei-me ainda o hipopótamo aparava a relva do outro lado da parede do meu quarto. Era noite escura.
Queria acabar de preparar a bagagem para em seguida assistir na primeira fila ao maravilhoso espectáculo de luz e cor que o Sol e o rio Zambeze proporcionavam.
Às 5h30 já tinha o meu lugar marcado mesmo em frente às águas fumegantes do rio para assistir pela última vez ao deslumbrante “nascer-do-Sol”.
Quase uma hora depois, às 6h25, rompe o primeiro raio de luz dando início ao espectáculo de cores.
Dois minutos mais tarde já se jogava com todos os raios e o espectáculo atingia o seu esplendor máximo.
Despedi-me do rio Zambeze. Terminava aqui uma relação de 19 dias e 1600Kms. Agora só o voltaria a encontrar algures em território Moçambicano.
Tomei o meu pequeno-almoço saboreando cada garfada que levava à boca.
Teria que sair dali bem alimentado, pois além da “lanchonete” Oasis (a poucos quilómetros da Breezers), eu só encontraria o Posto de Abastecimento (a mais de 70kms), para poder repor as calorias.
Pela frente teria a etapa mais longa desde o início da viagem e talvez a etapa mais difícil em termos de ascensão.
Iniciei o processo de despedidas às 7h30, trocando contactos com a Anne-Marie e o Jay.
Às 7h40 iniciei os movimentos rotativos em torno dos pedais. Tinha pela frente 145kms que me manteriam ocupado pelas próximas 8 a 10 horas. Os primeiros 60kms seriam sempre a subir, contudo preferia subidas em vez de vento contra. Além que a densa estrutura molecular que trazia no estômago, dar-me-ia energia suficiente para enfrentar as montanhas que teria pela frente.
Menos de uma hora depois de ter iniciado a etapa, parei na já conhecida “lanchonete” Oasis para adicionar uma Coca-Cola ao organismo. Sabia que não teria a oportunidade de beber outra até ao cruzamento de Turnpike.
Poucos quilómetros mais à frente, parei no cruzamento para Siavonga na também já conhecida vendedora de bananas.
Encontrava-me agora verdadeiramente preparado para enfrentar a cordilheira montanhosa que teria de escalar.
Sentia-me bastante motivado com o desafio que estava para vir. Dava-me gozo trepar montanha após montanha. Levar a bicicleta e a carga até ao topo, para de seguida enfrentar a próxima subida sem qualquer tipo de queixumes.
Aplicava pedalada atrás de pedalada com a mesma dedicação e entusiasmo da primeira pedalada do dia.
Subida após subida ia progredindo na minha etapa. A velocidade média não estava má para a topografia da estrada e as minhas pernas continuavam a descarregar energia com o mesmo empenho do primeiro quilómetro.
Na falta de adversários dava-me ao luxo de fazer despiques com os camiões que enfrentavam dificuldades em vencer a força da gravidade.
Sentia os quadríceps a dilatarem devido ao esforço. Auxiliava o movimento descendente do perónio puxando o guiador para cima com os braços.
Os vasos sanguíneos dilatavam, aumentando o fluxo sanguíneo e consequentemente o transporte de oxigénio.
Cerca de 15kms antes de Turnpike a estrada ficou relativamente plana. Acabara a etapa de montanha e pedalava agora numa ligeira subida.
Vinha com a imagem de uma Coca-Cola gelada desde a última hora e sabia que a conseguiria encontrar no posto de abastecimento de Turnpike. Os últimos 15kms haviam sido uma tortura. Não porque a estrada fosse difícil mas pelo simples facto de haver por todo o lado, cartazes publicitários com garrafas de Coca-Cola cobertas de gelo, provocando a minha ansiedade.
Eis que finalmente chego ao Posto de Abastecimento de Turnpike, eram as 13h00. Na loja do posto, acalmei a minha sede com duas garrafas de Coca-Cola e degustei algumas bolachinhas de limão.
A estrada para Lusaka ficava agora monótona. Subidas e descidas ligeiras com o vento a começar a marcar a sua presença, umas vezes contra… outras vezes a favor.
Ainda muito antes de chegar à Capital da Zâmbia, começava a enfrentar as consequências da aproximação a uma metrópole.
Apareciam os complexos industriais, os grandes armazéns e o característico trânsito infernal. De alguma forma estranhei a confusão. Era a primeira vez, em quase 2 meses, que via ou enfrentava trânsito.
Eram as 16h35 e estava agora em Lusaka.
Na etapa do dia, havia percorrido 146kms em 8h54m e feito 1598m de ascensão acumulada.
Não necessitei de procurar lugar para passar a noite. Já levava comigo o nome da pensão onde iria montar a tenda. Seria na Cha-Cha-Cha Backpackers Lodge.
Tal como a Jollyboys Backpackers Lodge em Livingstonia, a Cha-Cha-Cha Backpackers Lodge era o local de abrigo a muitos viajantes oriundos dos mais diversos locais do mundo.
No entanto as infra-estruturas e as condições da pensão de Lusaka estavam a um nível bastante inferior quando comparadas com o nível da sua homóloga de Livingstonia. Por seu lado o preço variava na razão inversa.
Iria passar alguns dias na cidade, não só para conhecer Lusaka como também para obter algumas informações sobre a estrada que me levaria para Este (em direcção a Moçambique ou ao Malawi).
Acabei de ler os últimos posts sobre as tuas aventuras ao longo do rio Zambeze.
ResponderEliminarFoi um gosto ver as fantásticas fotografias e
sentir o "suspense" dos encontros com os animais de grande porte....
As etapas de montanha para ti não são problema!
Um abraço,
Celso