Eram as 8h50 quando me despedi do dono da pensão Leisure Bay Lodge, onde havia passado os últimos dias.
A etapa de regresso a Chirundu obrigava-me a pedalar exactamente pela mesma estrada que percorrera dias antes. Iria subir a mesma encosta, para depois desce-la do outro lado. Seguidamente cursaria uma linha recta de 50kms até ao cruzamento com a estrada principal. A única diferença com a viagem para Siavonga seria a visita à barragem, a poucos quilómetros da vila.
Cinquenta minutos mais tarde, estava em cima do imponente muro que segurava as águas do rio Zambeze e que servia de ponte entre a Zâmbia e o Zimbabué.
Se tivesse optado pela travessia do país de Robert Mugabe, poderia ter usado esta via de acesso, pois dos dois lados da barragem existem Postos de Migração. No entanto havia decidido visitar a Reserva do Baixo Zambeze e também Lusaka, pelo qual não iria entrar no Zimbabué.
No Posto de Migração da barragem, aproveitei para prorrogar o meu visto em território Zambiano apesar de ainda faltarem alguns dias para o término do visto actual. Preferia avançar com a proposta de prorrogação do visto na pacata fronteira de Siavonga, evitando correr riscos na movimentada fronteira de Chirundu.
Após algumas convincentes explicações ao agente em serviço, consegui que este renovasse a minha permissão para continuar no país.
Pedalava na monótona estrada de regresso a Chirundu, desta vez com o vento contra, na constante companhia de esbranquiçadas borboletas.
Mais tarde reparei que estas alimentavam-se dos detritos orgânicos deixados pelos bovinos ao longo da estrada, o que de alguma forma acabou por retirar as bonitezas que outrora os meus olhos lhes abonaram.
Cinco horas depois de ter deixado a pensão em Siavonga, cheguei ao cruzamento com a estrada principal.
Aproveitei para comprar as minhas saudosas bananas nas vendedoras locais para alguns quilómetros mais à frente ir aprecia-las na “lanchonete” Oasis (Local de paragem para muitos motoristas de longo curso) ao sabor de 1 Coca-Cola gelada.
Estava pela terceira vez a pedalar na estrada para Chirundu e mesmo assim esta não seria última vez. Quando iniciasse a etapa para Lusaka iria uma vez mais pedalar esse troço, mas nesse caso em sentido inverso.
Demorei quase 40 minutos para chegar à tão desejada “lanchonete” Oasis, onde pude saborear 2 Coca-Colas, sendo estas separadas por algumas bananas.
Quando me preparava para reiniciar a etapa e pedalar os últimos quilómetros até Chirundo, tive a oportunidade de conhecer a Anne-Marie que havia parado no Oasis para saciar a sua sede.
Anne-Marie era uma holandesa a viver na Zâmbia há alguns anos. Neste momento dirigia uma pensão nas margens do rio Zambeze, cerca de 7kms a Nordeste de Chirundu.
Uma vez que eu iria dormir em Chirundu para seguir para a Reserva do Baixo Zambeze no dia seguinte, Anne-Marie sugeriu que eu pernoitasse na “Zambezi Breezers”. Sempre era um lugar mais tranquilo e seguro em comparação com a vila fronteiriça de Chirundu repleta de fauna característica de uma fronteira Africana.
Percorri os restantes quilómetros até Chirundo em estrada de alcatrão, para em seguida virar à esquerda e percorrer 7 quilómetros de picada em direcção ao Parque Natural do Baixo Zambeze e em direcção à “Zambezi Breezers Lodge”.
Ao longe podia avistar a longa cordilheira em tons violeta, que segundo me haviam informado delimitava a área da Reserva Natural.
Às 16h10 cheguei ao destino final da etapa, cerca de 7h20m depois de ter deixado a pensão Leisure Bay Lodge em Siavonga.
A pensão Breezers estava situada numa das margens do rio Zambeze, proporcionando ao visitante um magnífico e tranquilizante cenário.
Era constituída por um bloco de dormitórios a poucos metros da recepção e por um conjunto de tendas (totalmente equipadas) dispersas pelo relvado. Para quem pretendesse acampar, havia a hipótese de montar a sua tenda na área adjacente ao bloco de dormitórios.
Uma vez que o quarto estava fora dos meus limites orçamentais, optei por montar a minha própria tenda no bonito relvado em frente aos dormitórios.
A Anne-Marie mostrou-me qual a área reservada para campismo e alertou-me para o facto de, nas horas nocturnas, existir a possibilidade de ouvir um hipopótamo a “pastar” nas imediações da tenda.
Não seria questão para alarme, pois o hipopótamo não iria entrar na tenda. Apenas deveria ter alguma cautela caso eu tencionasse deslocar-me à casa de banho durante a noite.
Até aqui tudo bem. Apenas me certificaria que entrava na tenda o mais leve possível evitando o risco de atravessar o relvado a meio da noite, para me deslocar até ao WC mais próximo.
Estava à conversa com Anne-Marie quando subitamente reparo que um dos cães da casa, não tinha uma perna.
Perguntei se havia sido atropelamento, apesar de não haver trânsito nas proximidades. Anne-Marie explicou-me que fora um crocodilo que lhe arrancou a perna, quando a cadela atirou-se ao rio.
“Pobre animal!”- pensei - “A nadar no rio e de repente vê a sua perna dentro das mandíbulas de um crocodilo.”
Questionei onde havia ocorrido o acidente, ao qual Anne-Marie prontamente me explicou “Ali… um pouco mais à frente do lugar onde vais montar a tenda…”
-Qual é mesmo o preço do quarto? – Perguntei.
Segundos mais tarde, estava alojado num dos quartos do bloco de dormitórios… e com 50% de desconto.
O serão foi passado no bar da pensão juntamente com a Anne-Marie e com o Jay. Posteriormente associaram-se outros clientes, nomeadamente um casal que já viajara de Land Rover desde a Cidade do Cabo até ao Cairo.
À hora do recolher certifiquei-me previamente se havia algum hipopótamo nas proximidades.
O audaz Guiness (o guardião de hipopótamos) há muito que estava sossegado o que me fazia crer que não havia nenhum animal de tonelada e meia a aparar a relva do recinto.
Avancei na negrura da noite, decidido a percorrer os intermináveis 40 metros que me separavam do quarto.
Seguia ligeiramente inquieto, quando reparo que o contorno do horizonte se deslocara suavemente para cima.
As minhas pupilas dilataram de imediato tentando captar o máximo de reflexos luminos possíveis. Pretendia distinguir alguma figura naquilo que parecia ser apenas o “fundo” da noite.
De facto, o fundo da noite não era mais que o dorso de um hipopótamo que estava a duas dezenas de metros da porta do meu quarto. Este resolvera mexer-se quando sentiu que eu me aproximava denunciando a sua posição.
De costas para o hipopótamo, tentei abrir a porta da minha habitação o mais depressa possível, enquanto o “pesadão” rodava na minha direcção. Tal como nos filmes, a chave nunca entra à primeira… e depois de entrar… não quer rodar… e após rodar, reparo que a fechadura abre para o lado contrário… e depois não quer rodar outra vez… e…. de repente quando menos espero… a porta abre… mas não encontro o interruptor da luz…
Fechei a porta atrás de mim, encontrei o interruptor e procurei a máquina fotográfica. Abri uma frinchinha da porta para tirar uma fotografia e reparo que o animal continuava no mesmo local como se nada tivesse acontecido. Não avançou nem meio passo. Nem mesmo para aparecer na fotografia.
Bemvindo de volta, dei à alguns dias com o teu blog e li-o com agrado e de rajada, devido à data de Maio com que postas pensei que já tinhas sido comido por algum leãopotamodilo (mistura de leão com hipopótamo e corcodilo)felizmente estás de volta e se postas com atraso ainda vamos ter muito que ler até ao destino final.
ResponderEliminarQue os ventos sejam agora de feição é o que te desejo.