Acordei no mesmo sítio onde adormecera na noite anterior, ou seja no sofá do bar.
Levantei-me por fases pois não conseguia esticar as pernas. Em primeiro lugar, sentei-me. Esperei um pouco até que a circulação sanguínea dos membros inferiores voltasse a funcionar e por último coloquei-me de pé.
Tinha as pernas dormentes e não queria acabar no meio do chão quando tentasse dar o primeiro passo.
Dirigi-me ao varandim do bar para contemplar o “nascer-do-sol” para logo de seguida arrumar as “mantas” no armário de onde as havia retirado.
Pouco depois apareceram os primeiros funcionários.
- Bom dia! Acordou cedo. – Disse o responsável do restaurante sem fazer a mínima ideia onde eu passara a noite.
- Pois… gosto de ver o “nascer-do-sol” – Esclareci.
Tomei um ligeiro pequeno-almoço sobre o Zambeze enquanto planeava o meu dia.
Se eu não conseguisse realizar o safari durante o dia, de nada adiantava permanecer na Mvuu Lodge pois de bicicleta não podia visitar o parque.
Eu continuava a ser o único cliente da pensão e a probabilidade de aparecer alguém para preencher os lugares vazios da viatura de safaris era bastante baixa.
Após mais de uma hora de negociações e telefonemas para o Zimbabué (onde estavam os proprietários da pensão), consegui um mini-safari sem que tivesse que pagar mais por ser o único passageiro.
Iniciámos o mini-safari às 10h36 para regressarmos à base cerca de 90 minutos depois.
Não vi nenhum leão…
Preparei uma dose de esparguete instantâneo e enquanto saboreava o meu delicioso cozinhado, meditava sobre o regresso à Breezers Lodge nessa mesma tarde.
Pela frente teria apenas 58kms os quais percorreria facilmente. O único entrave que poderia surgir era o batelão. Desconhecia por completo qual o horário de fecho da barcaça.
Como que por impulso instintivo decidi preparar a trouxa, coloca-la em cima da bicicleta, pagar a conta e iniciar viagem.
Apeteceu-me contestar a factura quando vi descriminado “Dormida em Tenda” e “Safari”, pois eu não havia dormido em tenda.
Mas acabei por estar calado, não fosse a “Dormida no Sofá do Bar” ser mais cara que a “Dormida em Tenda”.
Iniciei a etapa pouco depois das 13h00. Apesar do calor que se fazia sentir pedalava com ânimo e ansioso por chegar ao destino.
Enquanto cursava atento a pegadas de elefantes, eis que avisto um animal de 6 toneladas a correr ao meu lado.
Estava a uns 10 metros do meu lado esquerdo e corria a 45o com a minha trajectória, partindo tudo o que surgisse na sua frente.
Abrandei a marcha e deixei passar o “pesado”. Vi-o cruzar a estrada diante mim e a poucos metros de distância, para logo de seguida desaparecer no meio do mato.
Reiniciei a pedalada sempre atento ao local onde o elefante havia desaparecido, não fosse este fazer alguma inversão de marcha. No entanto não seria este elemento o causador da minha dor de cabeça, mas sim os 4 ou 5 membros do grupo que estavam ao longo da estrada do meu lado direito.
Apesar de não conseguir ver os restantes elefantes, eu era forçado a sentir a sua forte presença a escassos metros de mim. Assustados pela minha passagem, começaram a correr partindo todos os galhos à sua volta.
Continuei a pedalar acelerando o ritmo, sempre na esperança que nenhum deles se decidisse a correr para o meio da estrada ou a correr atrás da bicicleta.
Pouco depois passava o portão da reserva.Estava livre de encontros estranhos.
Podia agora voltar a colocar os auscultadores nos ouvidos e deixar o iPod impor a cadência aos pedais.
Mais uma vez a alegria não ia durar muito tempo. Vinte minutos depois de passar a divisa da reserva fui obrigado a encostar a bicicleta devido a um pneu furado. Não me estava a apetecer perder muito tempo a reparar o pneu, ainda mais sabendo do constrangimento relativo ao horário do batelão. Preferi o uso do spray de reparação e continuar viagem quanto antes.
Poucos minutos antes das 16h20 chegava à margem do rio Kafue, mesmo a tempo de ver o batelão partir para o outro lado.
A princípio temi que fosse a última viagem da barcaça obrigando-me a passar a noite neste lado do rio, mas após alguns minutos chegaram mais passageiros esmorecendo-me as dúvidas.
Esperei quase 40 minutos para que o batelão se decidisse a passar para este lado do rio. Depois foi só uma questão de aguardar o embarque de todos os passageiros e partir em direcção à outra margem.
Pedalava agora os últimos quilómetros de regresso à Breezers Lodge, com o pôr-do-sol nas minhas costas.
Pela terceira vez passava pela “ponte” de sacos de areia, a qual já conseguia atravessar sem colocar os pés no chão.
Às 17h30 dava entrada na Breezers Lodge onde fui novamente bem recebido pela Anne-Marie e pelo Jay.
Desde que deixara a Breezers Lodge (no dia anterior), nada mudara.
As personagens principais continuavam a desempenhar o seu papel:
-O pequeno mas destemido Guiness… sempre atento aos hipopótamos;
- A cadela tripé a descansar as suas três patas;
- E o aparador da relva que não se cansava de fazer barulho à volta do meu quarto;
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