Zâmbia – 8º Dia (Sesheke – Kazungula)

 

Depois de 2 dias de descanso em Sesheke, estava na altura de seguir em direcção a Livingstone. Pernoitaria em Kazungula (cerca de 134kms) e efectuaria os 66kms restantes até Livingstone, no dia seguinte.

Despedidas consumadas ao pessoal da pensão Sisheke e iniciei a etapa. Pouco passava das 9h30.

Tal como havia previsto dias antes, agora que eu seguia para Este… o vento seguia para Oeste. Em contrapartida a estrada estava em óptimo estado e não apresentava desníveis significativos.

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Logo nos primeiros quilómetros comecei a sentir a pernas doridas e emperradas, possivelmente fruto de resíduos do desgaste sofrido dias antes e do crescente vento em sentido contrário.

O ideal teria sido escolher uma etapa mais curta no primeiro dia após o descanso e deixar a etapa longa para o dia seguinte. No entanto e devido a restrições geográficas, era obrigado a optar de forma inversa para evitar dormir no meio do mato.

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A viagem seguia de modo insosso, obrigando-me a ocupar a mente com todo o tipo de cálculos matemáticos sobre médias, previsões de chegada, dias de viagem, etc, etc … planeava também possíveis trajectos após Livingstone e punha pela primeira vez a hipótese de entrar no Zimbabué seguindo em direcção a Harare.

Trajecto

Faltavam 20 minutos para o meio-dia, quando resolvi quebrar a monotonia e furar uma vez mais o pneu da frente.

Era uma boa razão para descer da bicicleta, relaxar as pernas e passar uns 20 a 30 minutos a reparar o furo. Tudo isto debaixo de um Sol incinerador e onde as moscas aproveitavam para fazerem das minhas orelhas as suas pistas de aterragem e descolagem.

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Findo o turno do reparo, passei para a hora do almoço. Bolachas de banana… uma vez que as bananas compradas em Sesheke há muito que haviam desaparecido.

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Continuava enfadado com a etapa do dia. A estrada era boa demais, com longas rectas e sem subidas… no entanto havia o vento contrário que impedia a minha deslocação de um modo cadenciado e havia a monotonia paisagística que não entusiasmava a pedalada.

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Passavam 4 horas desde que deixara Sesheke e durante todo o percurso foram raras as vezes que vi alguém… e ainda mais raras foram as vezes que alguém me cumprimentou por sua livre e própria iniciativa. A regra era simples… se eu cumprimentasse em primeiro lugar, então a pessoa também me cumprimentava. Se eu permanecesse calado, nesse caso não recebia nada em troca a não ser um olhar espantado.

Havia hábitos que não se alteravam de região para região. Todo e qualquer utilizador de uma bicicleta, tinha obrigatoriamente que me ultrapassar para depois seguir à minha frente um punhado de metros numa tentativa de provocar qualquer reacção ao meu compasso. Mesmo que eu permanecesse no meu ritmo, a desafronta quase sempre findava com uma incursão para o capim, por parte do provocador.

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Foram necessários 115kms para eu encontrasse o primeiro posto de transacções comerciais, inclusive a venda de Coca-Cola fresca. Habitei-me às latas de refrigerantes com 440ml de capacidade pelo que fui obrigado a comprar 2 garrafas de 300ml, uma vez que o estabelecimento não vendia bebidas em lata.

Pouco depois chegava ao cruzamento que me levaria a Kazungula.

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Kazungula não passava de uma aldeia fronteiriça.

Havia camiões de mercadorias por todo o lado, que aguardavam os despachos dos transitários para cruzar a fronteira com o Botsuana.

Dirigi-me ao Restaurante Zipazi a 2 centenas de metros da fronteira, com o objectivo de comer qualquer coisa sólida e para saber onde poderia passar a noite.

Fui atendido pelo responsável, um rapaz jovem que disponibilizou-se a ajudar-me. Ao explicar-lhe que bastavam-me 2m2 de chão para poder montar a tenda, este teve uma ideia fantástica.

Alugou-me um escritório num edifício em construção por um período de uma noite, onde eu poderia montar a tenda e onde teria os meus haveres fechados e em segurança… apenas por 1/3 do preço de um quarto

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O jantar foi no respectivo restaurante. Pedi a única coisa que havia (carne com nshima) para comer. Pela 2ª, vez desde que tinha entrado na Zâmbia, que apanhava um restaurante sem talheres. Após alguma insistência minha, o empregado foi buscar os únicos talheres disponíveis… os talheres existentes nas travessas de comida…. Para que eu avançasse na minha refeição…

Apesar do vento contrário, este fora o dia com a melhor média horária. Percorrera os 134kms em 7h31m, incluindo 1h28m de paragens.

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1 comentário:

  1. xica,

    tens mesmo a certeza de que valeu a pena ires a essa viagem ? Parece-me que so estas a tirar experiencias negativas dela! Acho que devias relaxar, abrir um pouco a mente... so falta queixares-te da falta de pasteis de nata

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