A distância que separava Monze e Mazabuka era apenas 62kms, o que me permitia alguma descontracção relativamente à hora de partida.
Os cuidados com a água que bebia já haviam ficado para trás.
Deixara de ferver a água e de usar as pastilhas de clorina, desde que saíra de Livingstone.
A única cautela que permanecia era unicamente perguntar aos cidadãos locais se eles bebiam água da torneira.
Se a resposta fosse afirmativa, nesse caso eu também bebia dessa água.
Deixei a pensão Golden Pillow às 10h00 com a promessa que iria encontrar bananas ao longo do trajecto até Mazabuka. Sendo assim não teria que me preocupar com o almoço, pois poderia comprar bananas pelo caminho.
Tal como nos dias anteriores o vento continuava de frente e forte, obrigando-me a aproveitar os efeitos benéficos originados por aqueles que queriam (inconscientemente) ajudar-me.
Apesar de nenhum dos ciclistas permanecer na dianteira por muito tempo, não era razão para desmoralizar pois surgia sempre alguém disposto a seguir à minha frente.
Nos tempos mortos entre a troca de caudilhos, continuava a imaginar possíveis trajectos para a minha viagem.
Mantinha-me na dúvida sobre a entrada no Zimbabué e seguir em direcção a Harare ou simplesmente permanecer na Zâmbia e rumar em direcção a Lusaka.
Havia também a possibilidade de visitar o Lago Kariba ou visitar a reserva do Baixo Zambeze, ambos junto à fronteira com o Zimbabué.
Fosse como fosse, este seria o último dia para a tomada de decisão pois na etapa seguinte eu chegaria ao entroncamento que me levaria para Harare ou para Lusaka.
Perto das 12h00 o meu estômago começou a dar sinais que estava desguarnecido.
Eu permanecia sem encontrar bananas o que levou-me a optar pelo plano B…
…bolachas de banana.
Cerca de uma hora mais tarde, chegava à cidade de Mazabuka.
Uma cidade com algumas infra-estruturas importantes, fruto dos investimentos agrícolas na região nomeadamente na produção de açúcar.
Dei uma volta pela cidade enquanto procurava um lugar para dormir.
Constatei uma vez mais aquilo que já observara em todas as cidades Zambianas por onde passara. Não havia vestígios históricos nem arquitectónicos deixados pelos ingleses.
Contrariamente ao que pude observar em Angola (em que todas as aldeias, vilas e cidades tinham uma forte marca daqueles que ali passaram), as cidades Zambianas não tinham nem sal nem sumo.
Estavam desprovidas de uma igreja centenária, de um palácio do governador/administrador, de uma praceta com bancos de jardim, de um parque infantil, de uma escola dos inícios do século XX ou de uma simples avenida com árvores ao centro.
As cidades da Zâmbia, quando comparadas com as cidades Angolanas de meados do século passado, pareciam cidades desnudas. Dava a ideia que aqueles que vieram para cá (Zâmbia) nunca vieram com a intenção de permanecer no país.
No caso de Angola a questão era completamente diferente. Quem quer que fosse que habitasse em Angola na altura, notava-se que consideravam o país de acolhimento como sendo “a sua casa”.
Encontrar pensões para ficar começava agora a ser uma tarefa complicada.
Não pelo número de pensões existentes, mas sim pela relação preço/qualidade. Havia pensões a preço médio mas de qualidade dúbia, enquanto que as pensões ligeiramente melhores sofriam um incremento injustificável no preço.
Acabei por encontrar outra Golden Pillow Lodge que pertencia ao mesmo dono da pensão de Monze. Com um simples telefonema ao proprietário, obtive um significativo desconto ficando assim resolvida a questão do alojamento.
Ainda era cedo. Eu tinha que dedicar algum do tempo restante para repor os meus stocks de comida e para planear a viagem do dia seguinte.
Enquanto preparava-me para sair, reparei que estava com um ligeiro aspecto à “Homem-Zebra”…
… mas com as listas mais grossas.
Após alguns minutos dedicados às compras alimentares, resolvi entrar numa loja que além de ser especialista em peças para automóveis, de vender material eléctrico e material electrónico, era também… barbearia.
Ao entrar no estabelecimento verifiquei que para além de todos os ramos de negócio supra-citados, a loja era igualmente um “pronto-a-vestir” feminino.
Dei o primeiro passo dentro do estabelecimento, para ser imediatamente convidado a sentar-me diante do espelho, passando à frente dos outros clientes:
– Eles esperam… - justificou o barbeiro quando questionei a sua acção.
Onze minutos mais tarde, eu saía da loja de peças para automóveis com um aspecto novo…
O dia seguinte seria o dia da grande decisão.
Seguir para Norte em direcção a Lusaka ou seguir para Sul em direcção a Chirundo, na fronteira com o Zimbabué.
ALELUIA!!!!
ResponderEliminarNoticias tuas!!!
Estava a ver que com tanta indecisão te tinhas esquecido de actualizar este diário.
Grande abraço e continuação de uma boa viagem!
Carlos Miguel
Encontrei este blog por acaso há uns dias e li todos os posts de seguida. Estava a ficar preocupado com o desfecho desta odisseia, mas pelos vistos está tudo bem.
ResponderEliminarOs meus parabéns pela aventura, pelo espírito e pela bela narrativa. Força nesses pedais!
Um abraço de Lisboa
M. Bessa
Esse espírito está de parabéns pela força com que te transporta nessas pernas que treinas, saúdo a tua coragem de sair à aventura.
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