Moçambique (Matanuska – Nampula)

 

Levantei-me tranquilamente como se tivesse todo o tempo do mundo para chegar a Nampula. Afinal eram apenas uns meros 105Kms que me separavam do destino do dia, os quais contava percorrer em cerca de 6 horas.

Enquanto preparava a bagagem, iam fazendo uma breve inspecção visual ao estado da bicicleta. A pedaleira da frente (2ª) apresentava um desgaste moderado, pelo qual eu era obrigado a pedalar no 1º ou no 3º prato.

Os carretos traseiros, também começavam a anunciar algum desgaste, no entanto ainda não muito preocupante. O suporte das malas traseiras, respirava saúde desde que soldara dois reforços de aço durante a minha estadia em Luena (Angola). O pneu chinês comprado no Malawi também tinha boa cara. O pior vinha quando eu olhava para o meu aro traseiro.

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Além de ter o aro quase aberto em duas metades, reparava agora que as “estaladelas” haviam progredido para o lado exterior do aro. Para piorar ainda mais o cenário, acabava de descobrir que tinha 3 raios partidos e todos eles do mesmo lado da roda (lado esquerdo).

Como consequência dos raios partidos, o aro traseiro estava descaído para o lado oposto (direito), além de apresentar um certo formato “oval”.

Olhava cada vez com maior preocupação para o aro da bicicleta, pois achava que seria quase impossível a reparação do mesmo. Isto, se o aro conseguisse aguentar até Nampula, onde esperava encontrar uma oficina que soldasse a roda, ou então um local onde pudesse comprar um aro novo (ou usado).

Passaram-se mais de 2h30m, desde que acordei até que saí de casa do Jorge e iniciei a pedalada para Nampula.

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Apesar de ter pedalado apenas por um dia, as pernas ainda acusavam o cansaço da etapa anterior. Questionava-me se a razão do cansaço seria da falta de hábito a pedalar (resultante dos dias de praia) ou se seria pelo facto de nesta data eu estar um ano mais velho. A partir de hoje, encontrava-se a meio caminho entre os 30 e os 40 anos.

Na curta travessia do bananal, entre a Matanuska e a estrada nacional, pude aperceber-me que as condições atmosféricas não seriam totalmente do meu agrado.

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O céu encontrava-se cravejado de blocos de nuvens que impediam a penetração dos raios solares, enquanto o vento ainda andava a decidir qual a direcção a tomar. Fosse como fosse, este nunca iria soprar a meu favor, além de contribuir para a descida de temperatura.

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Tal como no dia anterior os quilómetros custavam a passar, ao contrário das unidades de “tempo” que avançavam bem mais rápido do que a bicicleta. Uma vez mais pedalava sobre a ansiedade de chegar ao final da etapa, mas sem grande vontade de despender esforços para o alcançar.

A solução seria abstrair-me da realidade, desligar o cérebro e deixar a pernas em modo “cruise-control”, para ver se os quilómetros passavam mais rápido.

No entanto nem sempre era fácil, pois já não contava com a ajuda do iPod para distrair-me, além que era o alvo dos inúmeros assobios de habitantes locais a pedirem-me dinheiro.

Algo que me custava aceitar era o facto de ver grupos de homens e rapazes a passar o dia debaixo de uma árvore, ou na entrada de uma barraca de bebidas.

À minha passagem, chamavam-me com gritos e assobios, sem nunca saírem da sua sombra, apenas para pedirem algo.

 

“Dinheiro…dinheiro…”, “Hey! Money…” ou o tradicional “Dá lá metical…”, eram as palavras mais ouvidas durante as primeiras 5 horas passadas em cima do selim.

Era um aspecto cultural que cozia-me os nervos e com o qual eu não lidava muito bem. Ao contrário dos mais graúdos, as crianças corriam para a beira da estrada apenas para me verem passar, acenando com as suas mãozinhas vários “olá” e “adeus”.

A insipidez da viagem fora apenas quebrada com o encontro com os meus amigos das Chocas (que seguiam de carro também para Nampula) e com uma paragem num café para matar a minha sede e fome com Coca-Cola e bananas.

 

 

 

 

Os últimos 20Kms até Nampula, foram uma tormenta física e psicológica.

Por um lado as minhas pernas acusavam de maneira drástica a fadiga, insistindo em não querer impor mais esforço no pedais do que aquele que lhes convinha.

Por outro lado acabara de partir o 4º raio do meu aro traseiro, fazendo-me duvidar se alguma vez chegaria a Nampula com a roda montada na bicicleta.

Mesmo pedalando com o cabo do travão traseiro solto, o empenamento do aro era de tal ordem, que este conseguia desviar-se uns centímetros e tocar no calço de travão.

 

Com o aproximar da Capital de Província, o número de aldeias e vilas ia aumentando. Consequentemente aumentava também o número de jovens ciclistas que queriam acompanhar-me por algumas pedaladas.

Para infortúnio meu, nenhum deles queria ultrapassar-me, mesmo que eu indicasse para tal. O meu objectivo era aproveitar o efeito cone-de-ar que estes ciclistas podiam proporcionar-me e assim diminuir o meu esforço físico. Mas fui obrigado a seguir sempre na frente do pelotão, até que os meus companheiros chegassem às suas casas.

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Pouco antes de entrar em Nampula e após 6 horas de viagem, consegui apanhar a primeira aberta. Um pouquinho de Sol para embelezar a tarde e para iluminar os blocos rochosos que começavam agora a aparecer um pouco por toda a parte.

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Dei entrada na cidade de Nampula às 17h00, depois de ter percorrido 105Kms em 6h46m (39m parado).

À primeira vista, estava numa cidade de média/grande dimensão e onde a realidade era muito diferente das aldeias e vilas por onde passara nos últimos tempos.

Provavelmente apenas Nacala e Pemba estariam na mesma ordem de grandeza de Nampula.

Contudo, e apesar da minha fobia a grandes centros urbanos (tal como acontecera em Nacala), eu era obrigado a permanecer na cidade por uns dias. A minha roda traseira não me permitia aventurar por mais uma etapa sem que acabasse apeado no meio da estrada.

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Iria ficar hospedado em casa da Ana, juntamente com parte do grupo da praia das Chocas que já se encontrava em Nampula.

Grupo este que havia organizado um jantar no restaurante Copacabana, para festejar o meu aniversário que se comemorava nesta data.

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Obrigado a todos.

2 comentários:

  1. Feliz Aniversário, "é capaz" de já ir um bocado atrasado, mas fica aqui um abraço de parabéns!
    L.Guimarães

    PS. ... nunca mais chegas ao destino... ;)

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  2. Hehehe... vale mais tarde que nunca!
    PARABÉNS.
    1 abraÇo.

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