Estadia em Chocas-Mar

 

A estadia em Chocas-Mar não havia sido programada, contudo a tranquilidade e a beleza natural impediam-me de deixar o lugar.

DSC00828

Estava alojado na casa do Jorge, uma pequena vivenda à entrada da vila e a uns escassos 20 metros do mar.

Todos os dias acordava com o Sol por detrás do Oceano, enchendo de luz todas a casinhas situadas na orla costeira.

DSC00822

Depois do banho matinal nas águas do Índico, tinha sempre o DSC01881pequeno-almoço (preparado pelo António), na mesa da varanda.

 

Não me cansava de deliciar a boca, com fruta fresca, cereais e sumo.

Os almoços e jantares iam pelo mesmo caminho. Quase sempre preparados pelo António (cozinheiro) e em quantidade suficiente para alimentar o meu corpo.

DSCF6814

DSCF6804

Evidentemente, tivemos que tomar medidas extra no que respeita à gestão dos stocks de géneros alimentares. O facto de ser apenas mais um em casa, eu assimilava a mesma quantidade de comida que os outros todos juntos. Iam-me valendo as minhas papas Cerelac, que comia entre as refeições.

Os dias eram passados na praia ou não varanda da casa, sempre em constante confraternização com os meus anfitriões.

DSC00939

DSCF7007

A vila de Chocas-Mar conseguia manter muitos dos traços originais, à excepção de uma ou outra casa, reabilitada com extravagantes designs e produtos de construção. Talvez por ser época baixa (Inverno) a povoação encontrava-se quase desértica, apenas com alguns locais que se dedicavam à pesca.

DSCF6797

Muito possivelmente o resultado da pescaria destinava-se a alimentarem as necessidades das cidades ou outros centros populacionais, pois todos os dias saiam carradas de peixes que chegariam para alimentar a duas a três vezes a vila das Chocas.

DSC00996

As praias ao redor eram pavimentadas com uma fina areia branca, que não se cansava de reflectir a luz solar até que o Sol desaparecesse nas traseiras das casas.

DSC00883

O mar, praticamente transparente, permitia qualquer pessoa a aventurar-se nas suas águas, sem que perdesse “pé”.

DSC00843

Sentia que estes eram os primeiros dias de verdadeiro descanso, desde o início da viagem. Com tanta tranquilidade e mordomias, até me esquecia que tinha uma roda na bicicleta que poderia dar as últimas a qualquer momento, deixa-me encalhado.

De facto, os momentos dedicados à bicicleta foram mínimos. Esta apenas usufruiu de uma lavagem à pressa, mais uma reparação ao suporte da bolsa da bicicleta (que partira antes de chegar a Nacala) e uma afinação nos raios. O resto foi tudo muito superficial. Uma inspecção ao estado da pedaleira do meio (ainda tinha dentes) e à suspensão dianteira, que apresentava folga.

Pela primeira vez em toda a viagem, senti o doce sabor da “preguicite”.

Não tinha que me preocupar com a roupa, pois o Joaquim (guarda) tratava das lides todas, lavando impecavelmente à mão, a roupa dos 4 habitantes da casa.

Nem tinha que me preocupar com a comida, porque o António tratava-nos bem.

Os problemas vinham quando alguém pedia um pão ao António, e este respondia:

- Não tem… Patrão Pedro comeu o pão todo!

DSC00854

Ao longo do dia podia-se avistar vários tipos de actividades económicas da população local.

Todas elas voltadas para o mar, desde a mais simples até à mais elaborada.

Desde os pequenos miúdos que se dedicavam à pesca à linha, em cima dos recifes…

DSC00951

…ou dentro de água…

DSC00963

…passando por aqueles que se aventuravam no Oceano, nas suas pequenas canoas escavadas num só tronco de árvore…

DSC00959

DSC00967

Terminando nas refinadas embarcações à vela, que tanto se dedicavam à pesca, como ao transporte de passageiros entre as várias populações da zona.

DSC00862

Por duas vezes preparei-me para deixar este paradisíaco lugar e partir em direcção à Ilha de Moçambique, mas era constantemente persuadido a ficar mais um dia.

Não só pela beleza natural das Chocas, como também pela boa companhia.

Aliás, segundo várias opiniões eu já tinha atravessado África da costa à contra costa, como tal tinha todo o direito de ficar nas Chocas e seguir para Maputo de carro.

No entanto essa não era a minha intenção, pois queria levar o meu projecto até ao fim, por mais aliciante que fosse a proposta.

 

Além disso tinha o meu visto quase a caducar, o que não me permitiria grande desleixo com os dias restantes. Ainda queria dedicar uns 2 a 3 dias à Ilha de Moçambique e contava com outros tantos para chegar a Nampula. Local onde iria renovar o visto.

Apesar de estar a poucos quilómetros da Ilha de Moçambique e de poder optar por uma travessia marítima, escolhi voltar a sentar-me no selim da bicicleta e rumar por estrada até ao destino. Seria uma etapa relativamente curta (+/- 70Kms) que me permitiria visitar com mais calma alguns locais de interesse antes de chegar à Ilha, tais como o Palácio dos Governadores (perto de Mossuril) e o primeiro aeroporto de Moçambique (Lumbo).

Mapa

2 comentários:

  1. Pedro
    Gde aventura! Conheço Angola e Moçambique (não tão bem quanto gostaria) e são sem dúvida dois países que guardo no coração (apesar da loucura de Luanda! lol)
    Vivi dois anos em Luanda e não resisto a enviar-lhe o link do blog de um amigo que se encontra a fazer o trajecto luanda - Lisboa, com passagem pelo sul de africa (moçambique inclusive)de moto.
    Porque sei que quem passa por África nunca esquece e porque imagino, tão bem, que quem, como o pedro e o gonçalo (meu amigo), embarca nestas aventuras, que todos os outros consideram loucas, nunca volta por completo e deixa sempre um pouco de si no que passou, ansiando pelo que virá, aqui lhe deixo o link do blog do Gonçalo Barros:

    http://africadomeucoracao.blogspot.com/

    felicidades


    Raquel Fernandes

    ResponderEliminar
  2. Pelo relato, torna-se quase irresistível o desejo de conhecer Chocas do Mar.Para não falar do que já ficou para trás... Parabéns pelas fotos, também. S.C.

    ResponderEliminar