Moçambique (Estadia em Pemba)

 

Decidira dedicar 3 dias do meu tempo para conhecer Pemba, para tentar resolver o problema da minha roda traseira e para delinear o meu trajecto para Sul.

A minha prioridade nº1 era sem dúvida reparar ou substituir o aro da bicicleta. No estado em que este se encontrava não me dava garantias nenhumas que se aguentasse por muito mais tempo.

Através dos meus recentes contactos na Associação Desportiva de Pemba, dirigi-me às mais conceituadas oficinas da cidade, na tentativa de encontrar alguém que pudesse/soubesse soldar alumínio sem derreter por completo o que ainda restava do meu aro.

A substituição do mesmo também era uma opção teoricamente possível, não fosse o facto de os aros existentes no mercado serem completamente incompatíveis com a minha bicicleta.

Além do motivo do aro, queria também comprar alguma material de consumo corrente, tal como câmaras-de-ar, remendos, uma garrafa de água e o respectivo suporte e as rodinhas do desviador traseiro, que por esta altura estavam quase em forma de um disco.

Percorri Pemba por várias vezes de uma ponta à outra na tentativa de satisfazer, pelo menos alguns dos itens do meu cabaz de compras. No entanto o comércio de Pemba estava vocacionado para os produtos de uso local e não para o material específico da minha bicicleta.

A maioria das câmaras-de-ar eram para jante 28” (a minha era 26”) e as câmaras-de-ar com medida 26” ainda usavam o sistema de pipos com camisa de borracha, o que era uma incompatibilidade para a minha bomba-de-ar.

Quanto aos remendos, era outro problema. Os únicos remendos que eu conseguia encontrar destinavam-se a câmaras-de-ar de veículos automóveis ou de motos e mal cabiam dentro do meu pneu. Afinal de contas, a explicação para a falta deste tipo de artigo era simples. Para quê gastar dinheiro em remendos de bicicleta quando o ciclista lesado poderia reparar os furos colando um bocado de borracha na zona afectada.

A garrafa de água e o respectivo suporte, era outro bem que não fazia sentido para os comerciantes. Afinal de contas podia-se sempre amarrar uma corriqueira garrafa de plástico algures na bicicleta… para quê complicar o que é simples?

No que respeita às rodinhas do desviador traseiro, estas não mereceram grande atenção da minha parte. Não, porque eu não precisasse delas, mas sim porque era mais que certo que nunca encontraria este material, pela simples razão que as bicicletas locais não tinham mudanças.

No obstante da aquisição destes materiais, continuava a minha procura pelo soldador de alumínio que recusava em aparecer. E quando este aparecia havia sempre o problema de não encontrar eléctrodos para alumínio à venda no mercado, “Só indo buscar a Nampula…”.

Estava condenado a seguir viagem com o aro traseiro, quase aberto em duas metades. Talvez eu conseguisse pedalar até Nampula sem grandes percalços e uma vez lá, conseguisse encontrar quem me solucionasse o problema. Em suma, a manutenção da bicicleta resumiu-se à afinação dos raios da roda traseira, que haviam se soltado devido ao desequilíbrio dos esforços neles imputados.

Enquanto explorava Pemba à procura da tão desejada oficina especializada em soldaduras, aproveitava para fazer algum turismo.

Infelizmente a principal impressão com que ficara no dia da minha chegada, pouco se alterou. Apesar de alguns esforços do município em sensibilizar a população local, era visível o desleixo para com a beleza da cidade, da sua orla costeira e da sanidade pública.

Mas num aspecto Pemba batia todas as cidades, vilas e aldeias por onde eu havia passado. Algo tão simples como a comida. Afinal de contas estava na costa Moçambicana onde a fama dos pratos de peixe e marisco ultrapassavam fronteiras.

Nos dias passados em Pemba pude reaprender a saborear as refeições e a praticar a ginástica de comer à mesa com um jogo de talheres.

Já não era necessário comer arroz com uma colher, nem desfiar o peixe à mão. Nada que não estivesse habituado ou que me causasse algum tipo de fastio. A questão era apenas uma. Tinha que me habituar a sentar-me a mesa e usar todos os utensílios que colocavam à minha disposição para que pudesse levar a comida à boca.

A questão do uso do copo também era de difícil habituação. Assim que o empregado colocava a garrafa (ou a lata) em cima da mesa, esta imediatamente grudava-se nos meus lábios até que a última gota escorresse pelo gargalo.

No meu percurso até Nampula, havia 2 locais que seriam de visita obrigatória. A cidade de Nacala e a famosíssima “Ilha de Moçambique”.

Inicialmente havia planeado regressar a Metoro (96Kms) e depois rumar para Sul em direcção a Namialo (trajecto a vermelho). Em seguida seguiria para Nordeste até Nacala e depois regressaria pela mesma estrada até à Ilha de Moçambique. Por último, voltaria a Namialo pela mesma via de onde seguiria para Nampula.

Por ser o trajecto que menos me agradava em termos “turísticos” e por ser um trajecto que me obrigava a passar várias vezes na mesma estrada, dediquei algum do meu tempo ao estudo de um percurso alternativo e que fugisse às principais vias rodoviárias.

Para isso contei com a colaboração dos meus amigos da Associação Desportiva de Pemba, que conheciam parte de uma estrada antiga que outrora era usada pelas populações das localidades a Sul de Pemba.

O novo itinerário podia ser explicado da seguinte maneira. Até Micufe havia estrada de terra batida em relativo bom estado (localidade onde eu iria passar a primeira noite). A partir de Micufe teria que ir perguntando pelas aldeias como estava a estrada até Memba, pois ninguém tinha informações do seu estado.

Uma vez em Memba voltaria a encontrar picada em relativo bom estado até Nacala Velha, onde encontraria a estrada de alcatrão que me levaria até Nacala (percurso a verde).

Mapa 2

O único “senão” da questão era a foz do rio Lúrio e a foz do rio Mecuburi. Ambas não tinham ponte e a sua travessia pedonal dependia do caudal de água existente e da presença (ou não) de crocodilos nas mediações.

Nada que a população local não me pudesse esclarecer assim que eu chegasse aos “obstáculos” referidos. O único ponto em que eu insistia confirmação e que não me cansava de perguntar, era a existência de troços de areia que me obrigassem a passar mais tempo a empurrar a bicicleta do que a pedalar.

Na véspera da partida para Sul e para Mecufi, procurei obter algumas informações meteorológicas através da televisão e da internet.

Todos os sites estavam de acordo quanto a este ponto, a probabilidade de chover rondava os 20%, enquanto o vento seria forte de Sul e com rajadas.

Qual era a novidade?

1 comentário:

  1. Quase na recta final e sempre carregado de aventuras!!! ;) à espera dos próximos capitulos!!! Bjs Sónia :)

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